Neste novo artigo, exploramos as consequências imediatas da crise bancária provocada pelas falências do Credit Suisse e do Silicon Valley Bank (SVB) e o que isso significa para a indústria como um todo.
- A decisão do Fed de aumentar as taxas de juros pela segunda vez este ano reflete uma preocupação contínua com as pressões inflacionárias na economia dos EUA.
- Alguns bancos perderam altos valores em depósitos e estão sob pressão imediata por liquidez. E, mesmo aqueles que atualmente não enfrentam nenhum problema estão acumulando reservas de caixa, pois temem que o pânico se espalhe ainda mais.
- O recente declínio na capitalização de mercado de alguns bancos regionais nos EUA resultou em perdas significativas (cerca de US$ 140 bilhões) para cinco grandes bancos regionais desde janeiro de 2022, com indivíduos se afastando de depósitos bancários e migrando para os Money Market Funds (MMFs) devido a uma maior percepção de risco e juros mais altos.
Conforme já havia sido antecipado pelo mercado, o Federal Reserve determinou uma nova elevação nas taxas de juro este ano, com muitos stakeholders aguardando um aumento de 25 pontos base.
No entanto, o presidente do Fed, Jerome Powell, enfatizou que o banco central norte-americano está monitorando de perto os potenciais riscos nos mercados financeiros, o que reflete a crescente preocupação com a instabilidade financeira após o colapso do Silicon Valley Bank (SVB) e do Credit Suisse.
A decisão do Fed de subir as taxas de juros pela segunda vez em 2023 escancara a sua enorme preocupação com as pressões inflacionárias na economia dos EUA. Já há algum tempo, o banco central vem monitorando de perto os dados de inflação do país, e indicou que pode implementar novos aumentos de juros para conter a inflação e manter a estabilidade de preços.
Quando o Fed começará a cortar as taxas de juros?
A mais recente decisão do Fed levou os analistas a ajustar suas perspectivas de taxas de juros futuras.
De acordo com dados do Reuters Polling, a previsão média para o Fed Funds Rate indica que até o final deste ano haverá cortes nas taxas.
E, como mostra o gráfico abaixo, a partir daí os participantes do mercado esperam que as taxas de juros caiam continuamente até o fim de 2024, quando deverão girar em torno de 3,60%.
Segundo dados recentes divulgados pelo Federal Reserve, os bancos tomaram emprestado uma soma recorde de US$ 117 bilhões ao longo dos sete dias que precederam a quarta-feira, 22 de março.
Ou seja, foram US$ 32 bilhões a mais do que na semana anterior, superando a média de US$ 112 bilhões emprestados durante a Crise Financeira Global de 2007/2008.
Além disso, os bancos recorreram a um novo programa lançado no início de março, conhecido como Bank Term Funding Programme (Programa de Financiamento Bancário a Prazo), que lhes permite oferecer os chamados “underwater bonds” pelo valor nominal.
Os empréstimos nesse programa aumentaram significativamente: de US$ 2,4 bilhões na primeira semana para uma média diária de US$ 34,6 bilhões, atingindo um pico de mais US$ 50 bilhões na quarta-feira, 22 de março.
Bancos buscam maior resiliência
O aumento dos empréstimos demonstra como as falências do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank impactaram as operações de muitos bancos nos EUA, levando-os a recorrer a fontes de financiamento de curto prazo –como as fornecidas pela janela de desconto do Fed ou pelo sistema Federal Home Loan Bank— para compensar depósitos incertos.
Embora alguns bancos tenham sofrido com retirada de altos valores por correntistas e investidores e estejam sob pressão imediata por liquidez, mesmo aqueles que atualmente não enfrentam nenhum problema estão acumulando reservas de caixa, pois temem que o pânico venha a se espalhar ainda mais.
De forma geral, os banqueiros hesitam em usar janelas de desconto devido ao estigma associado à busca de crédito por meio delas e às consequentes especulações sobre a solvência da instituição. Mas é amplamente sabido que o Federal Reserve rejeitaria os mutuários insolventes de aproveitar esse tipo de linha de crédito.
A recente queda na capitalização de mercado de alguns bancos regionais dos EUA acabou resultando em sérias perdas (cerca de US$ 140 bilhões) para cinco grandes bancos regionais desde janeiro de 2022. Essa tendência, juntamente com o resgate do Credit Suisse pelo UBS, explicita os desafios enfrentados pelo setor bancário nestes dias.
Diante desse panorama, os participantes do mercado consideram cada vez mais a consolidação como uma solução para aumentar a resiliência dos bancos.
Fuga para fundos do mercado monetário
Além disso, dados do Investment Company Institute (ICI) sugerem que a confiança nos depósitos tradicionais foi profundamente abalada nos Estados Unidos. Por duas semanas consecutivas, houve uma variação semanal de mais de US$ 100 bilhões no total de ativos mantidos por Money Market Funds (MMFs).
Isso sugere que os clientes podem estar trocando os depósitos bancários pelos MMFs devido a uma maior percepção de risco e juros mais altos.
Vale lembrar que os Money Market Funds (MMFs) que detêm dívida do governo dos EUA se tornaram muito populares entre os investidores. Inclusive, esses fundos viram suas bases de ativos se expandir de maneira significativa a partir de 9 de março, crescendo US$ 250 bilhões nesse período.
Também é preciso observar que a volatilidade do mercado de títulos aumentou bastante com o Merrill Lynch’s Move Index atingindo seu nível mais alto desde a Crise Financeira Global –e isso se deu principalmente porque os bancos regionais nos EUA foram colocados sob tutela.
A intervenção do Federal Reserve, no entanto, parece ter reduzido marginalmente os níveis de volatilidade após preocupações com clientes resgatando fundos em massa de instituições que fazem parte do grupo conhecido como Systemically Important Banks (SIBs).
Saúde financeira do Deutsche Bank gera nervosismo na Europa
Na sexta-feira, 24 de março, os investidores reagiram em peso aos boatos envolvendo a saúde dos sistemas financeiros globais, o que levou à liquidação generalizada das ações do Deutsche Bank (DBK).
Como um dos credores mais importantes da Europa, esse movimento teve, claro, implicações significativas para a economia internacional. As ações do DBK chegaram a despencar até 15% e acabaram fechando com queda de 8% no fim de semana.
Essa tendência de queda foi impulsionada sobretudo pelo aumento dos custos associados ao seguro contra inadimplência, o que catapultou os CDS do banco aos níveis mais altos desde 2020.
Para aumentar o sentimento de insegurança em relação ao setor, todos esses desdobramentos no Deutsche Bank (DBK) se deram na esteira da aquisição do Credit Suisse pelo UBS em face à instabilidade do banco suíço perante outras instituições maiores.
Com esse cenário, investidores em todo o mundo estão cada vez mais vigilantes sobre possíveis vulnerabilidades em seus portfólios e vêm buscando ativamente opções estáveis em meio à contínua volatilidade do mercado.
Consolidação é a solução para o setor bancário?
Resumindo a situação, podemos dizer que a recente queda na capitalização de mercado de alguns bancos regionais nos EUA e o resgate do Credit Suisse pelo UBS destacaram os desafios hoje enfrentados pelo setor bancário.
Ao mesmo tempo, vimos uma troca em massa de depósitos bancários tradicionais por MMFs de baixo risco, movimento impulsionado pela maior percepção de risco e juros mais altos.
E, embora a volatilidade do mercado de títulos tenha aumentado bastante devido a preocupações com retiradas em massa de Bancos Sistemicamente Importantes (SIBs), a intervenção do Fed parece ter reduzido um pouco os níveis de volatilidade.
Como resultado, a consolidação parece, sim, ser uma solução cada vez mais atraente para aumentar a resiliência dos bancos nestes tempos difíceis.