Já faz um ano que o caos da Covid-19 fez com que o índice S&P 500 desabasse 12% em apenas um dia, o seu segundo pior de todos os tempos, mas o “bull market” nascido dessa liquidação nos 12 meses subsequentes acrescentou mais de 40 trilhões de dólares ao valor de mercado das ações mundiais.
Em 16 de março de 2020, quando o S&P 500 sofreu sua pior queda em um dia desde a “Segunda-Feira Negra” de outubro de 1987, o índice MSCI global para os mercados de ações despencou quase 10%, apenas para subir novamente graças ao enorme apoio do banco central.
Os efeitos atingiram todos os setores do mercado. Segue um raio-x dos mercados naquele dia e no ano subsequente:
A viagem de US$65 trilhões
À medida que a Covid-19 se espalhava pelo mundo entre o fim de fevereiro e o término de março de 2020, desencadeando lockdowns sem precedentes, as ações mundiais viram seu valor de mercado despencar 21 trilhões de dólares. Os mercados atingiram o fundo do poço em 23 de março e registraram uma máxima recorde cinco meses depois.
A capitalização de mercado do índice MSCI global aumentou 40 trilhões de dólares entre 23 de março e agora –uma viagem de ida e volta de 65 trilhões de dólares.

O novo “bull market” (mercado em alta) avançou em fases, no entanto.
Durante o período de “esperança”, entre março e novembro, as ações de saúde e tecnologia dispararam à custa dos setores de finanças, companhias aéreas e outros atingidos por economias em contração e proibições de viagens. Os dois setores agora representam 42% da capitalização de mercado global de ações, em comparação com um terço antes da pandemia.

Isso levou ao maior “gap” de preços entre as ações de “crescimento” e os setores mais baratos, cujos desempenhos dependem da recuperação econômica, desde a bolha das pontocom da década de 1990.
Mas neste ano, com o início das vacinações contra a Covid-19, as ações de valor ganharam terreno. Enquanto as ações de tecnologia estão estáveis no acumulado do ano, o índice Dow Jones, da “velha economia”, subia 7%.

Descubra novas oportunidades com dados e conteúdo exclusivos oferecidos pelo Eikon.
Títulos
Em 16 de março, os rendimentos dos títulos dos Treasuries de dez anos despencaram. O choque veio um dia depois, quando gestores de carteiras de multimercado, lutando para compensar as perdas nas ações, passaram a vender seus ativos mais líquidos –títulos do governo.
Em um ponto em 17 de março, os rendimentos de dez anos nos EUA saltaram mais de 20 pontos-base, movimento acompanhado por liquidação nos gilts britânicos e bunds alemães.
Foi o momento que abalou a fé dos investidores nos títulos como diversificadores de portfólio.
O drama continuou em 18 de março, quando o prêmio exigido por investidores para manterem em carteira títulos italianos de dez anos em detrimento dos bônus alemães disparou mais de 65 pontos-base ante os níveis da abertura. No decorrer daquele dia, o BCE lançou um pacote de estímulo emergencial para a pandemia.
Foi um período de intensa volatilidade. O movimento médio diário entre as mínimas e máximas nos futuros do Bund foi de 186 ticks em março passado, o triplo dos níveis de fevereiro e uma das maiores oscilações já registradas, de acordo com dados da Refinitiv.
Um tick é a menor unidade de cotação de preços de um título.
O rendimento médio do índice Bloomberg Barclays de títulos multiversos caiu mais de 100 pontos-base entre um pico em março e uma mínima em agosto. Desde então, aumentou cerca de 55 pontos-base, para os níveis mais altos em quase um ano.

Dólar
Os mercados de câmbio, que giram por dia 6,6 trilhões de dólares, viram alguns dos movimentos mais marcantes, com o dólar norte-americano saltando quase 8% entre 9 e 20 de março.
Quase todas as outras moedas despencaram. Embora as divisas emergentes tenham sido mais atingidas –o peso mexicano despencou 18%–, até mesmo iene e franco suíço –ativos percebidos como seguros– caíram de 6% a 8%, à medida que a escassez de dólares atingiu os mercados monetários globais.
A sorte do dólar mudou em 19 de março, quando a ação do Fed amenizou a escassez de liquidez e eliminou a vantagem da moeda do ponto de vista de taxa de juros. No fim do ano, o dólar já havia caído 13% em relação aos picos de março.