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Violência política aumenta e assusta país em meio à campanha eleitoral

Lisandra Paraguassu
Lisandra Paraguassu
Repórter, Thomson Reuters
Gram Slattery
Gram Slattery
Correspondente, Reuters

O assassinato a tiros no final de semana de um petista por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) inflamou os temores de mais violência política durante o acalorado processo eleitoral até o mês de outubro.

A morte do militante do PT foi o caso mais dramático do ano em uma onda crescente de violência política na quarta maior democracia do mundo, acompanhada pelo Grupo de Investigação Eleitoral da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Giel).

“O aumento da violência tem muito a ver com o clima político atual”, disse o coordenador do grupo, Felipe Borba.

“Não porque é polarizado, a eleição sempre foi polarizada, desde 1989. Só que essa polarização está sendo alimentada com um discurso de ódio, e a intolerância política tende a ser um gatilho para violência não só entre políticos, mas entre eleitores”, acrescentou.

Críticos de Bolsonaro dizem que o presidente incentiva o clima tenso com sua retórica estridente, convocando apoiadores a se armarem para defender suas liberdades e dizendo que os únicos resultados possíveis na eleição para ele são morte ou vitória.

Bolsonaro, que quase morreu ao ser esfaqueado durante um evento de campanha em 2018, disse que “dispensa” o apoio de qualquer apoiador violento, e reclamou que está sendo injustamente culpado pelo episódio em Foz do Iguaçu no sábado.

O Palácio do Planalto não respondeu a um pedido por comentários.

Mesmo antes do assassinato de seu correligionário do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de intenção de voto na corrida presidencial, já estava aumentando as precauções.

Para se manter seguro na campanha, a equipe de Lula contratou um general que já comandou seu serviço de segurança anteriormente, de acordo com uma fonte próxima ao candidato, que pediu anonimato para discutir assuntos confidenciais.

A campanha do petista não respondeu aos pedidos de comentários.

Na semana passada, Lula compareceu a um imenso comício em espaço aberto no centro do Rio, usando um colete à prova de balas –uma visão cada vez mais comum neste ano e com poucos precedentes em campanhas anteriores ou durante o tempo de seu mandato, entre 2003 e 2010.

Os ataques à sua campanha neste ano até agora foram desagradáveis, mas não letais. Apoiadores em um evento no mês passado reclamaram de um drone pulverizador que despejou urina do ar. Na semana passada, a polícia prendeu um homem acusado de arremessar uma garrafa de plástico com fezes e uma pequena carga de explosivos por cima das grades em um evento de campanha.

Lula alertou seus companheiros de partido em uma reunião de campanha na segunda-feira que a violência relacionada às eleições irá se intensificar ainda mais nos próximos meses, de acordo com o sindicalista Ricardo Patah, que estava presente à reunião.

Os apoiadores de Bolsonaro argumentam que ele não é o único que está esquentando o clima para as eleições de outubro.

No domingo, Lula surpreendeu ao agradecer o ex-vereador paulistano Maninho do PT por empurrar um empresário anti-PT em frente a um caminhão durante um protesto em 2018. O vereador foi indiciado por tentativa de homicídio e o empresário sofreu com problemas graves de Saúde até falecer de Covid-19 em 2021.

Pesquisadores do Giel catalogaram 101 atos de violência política –incluindo 24 homicídios– entre abril e junho, uma alta de 18% em relação ao mesmo período no último ano eleitoral, de 2020.

Historicamente, a violência eleitoral no Brasil era dominada por pistoleiros ou matadores, que acertavam as contas das disputas entre políticos estaduais e municipais.

Mas o assassinato do tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda, no final de semana, durante sua festa de aniversário de 50 anos com temática de Lula, não tem nenhuma das características da chamada “pistolagem” tradicional.

O assassino, um policial penal federal chamado Jorge Guaranho, não tinha nenhum histórico com a vítima antes de invadir a festa de aniversário gritando seu apoio a Bolsonaro.

Sua conta no Twitter revela um homem consumido pelo ódio a Lula e por uma paixão por Bolsonaro.

“Conservador”, diz seu perfil. “Cristão, Bolsonaro Presidente, Armas = Defesa.”

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