Apesar da ampla disseminação dos crimes financeiros, muitas organizações ainda não sabem com quem estão negociando. Uma recente pesquisa da Refinitiv destaca as lacunas nos processos necessários para estabelecer o beneficiário final, bem como as vantagens de se aprimorar as ferramentas para verificação de riscos.
- A legislação sobre crimes financeiros exige que as organizações identifiquem o beneficiário final (ultimate beneficial owner, ou UBO) de qualquer entidade antes de estabelecer um relacionamento comercial.
- Uma pesquisa da Refinitiv sobre as verificações realizadas pelos profissionais de compliance antes de suas empresas iniciarem uma relação comercial apontou que 53% dos entrevistados tomam medidas de Know Your Customer (KYC). Esse índice cai para apenas 27% quando se refere ao UBO.
- Para aprimorar as verificações dos beneficiários finais, as organizações devem se informar urgentemente sobre soluções que visualizem e mapeiem relacionamentos comerciais e seus potenciais riscos.
A legislação contra lavagem de dinheiro, suborno e corrupção e outras leis relacionadas a crimes financeiros exigem que as organizações entendam exatamente com quem estão negociando. Isso se estende à identificação dos beneficiários finais de qualquer entidade antes de estabelecer um relacionamento comercial.
Estar em compliance com esses regulamentos não é nada simples. Isso porque complexas estruturas corporativas podem turvar o cenário, como foi destacado pelos vazamentos dos Panama Papers e dos Paradise Papers, em 2016 e 2017, respectivamente.
Os dois casos demonstraram que os criminosos são hábeis na utilização de intrincadas estruturas de entidades legais para ocultar as identidades de seus UBOs.
Mas os desafios para identificar o beneficiário final não param por aí. Muitas vezes, é difícil acessar informações confiáveis (e completas) sobre os reais proprietários de uma empresa e, para piorar a situação, jurisdições diferentes têm métodos distintos para definir e registrar a propriedade.
Tudo isso dificulta o compliance, mas as organizações não podem se esquecer de que o fracasso nessa área pode levar a severas ações regulatórias, sanções financeiras e danos reputacionais potencialmente devastadores.
Portanto, é crucial identificar e examinar os verdadeiros proprietários de todas as entidades com as quais a sua empresa ou instituição financeira pretende se envolver. Porém, as estatísticas do mundo real mostram que isso não está acontecendo.
Assista ao vídeo: Beneficial ownership screening with Refinitiv World-Check One
Você sabe quem é o UBO?
Uma pesquisa da Refintiv realizada em março de 2019 –com mais de 3.000 gerentes com responsabilidades relacionadas ao compliance em grandes organizações globais— analisou como as empresas estão adotando a inovação para lutar contra crimes financeiros e apresentou algumas idéias interessantes sobre rastreamentos de UBO.
Os entrevistados foram solicitados a identificar as verificações que realizam (com ou sem êxito) antes de iniciar um relacionamento comercial externo. A maioria deles (53%) selecionou KYC para comprovar a identidade dos clientes.
Embora seja preocupante que uma percentagem tão baixa (pouco mais da metade) dos entrevistados faça esse tipo de averiguação, é muito mais temeroso o fato de o número cair para apenas 27% quando se trata de analisar o status do UBO.
A sondagem também pediu aos participantes que indicassem se as verificações selecionadas costumam ser executadas com êxito. E, por incrível que pareça, apenas 15% acreditam que as investigações de status de UBO são bem-sucedidas.
É importante notar que, quando soluções tecnológicas são empregadas, as taxas de sucesso de todas essas pesquisas são proporcionalmente muito mais altas. Em relação aos rastreamentos específicos de UBO, o índice de sucesso dos usuários de tecnologia, embora ainda muito baixo, é duas vezes mais alto do que o daqueles que não a adotam (15% contra 7%).
Sem dúvida, essas estatísticas destacam as enormes lacunas que existem no compliance com as informações sobre os beneficiários finais. Mas, por outro lado, também apontam a tecnologia como um facilitador essencial para melhorar a performance nessa área.
Dados completos e confiáveis
Para que as organizações ajudem a combater os crimes financeiros e cumpram com os regulamentos de UBO, elas precisam das ferramentas certas, capazes de desvendar a complexidade por trás de muitas estruturas de propriedade. Para isso, é preciso:
- Criar rapidamente uma imagem abrangente do beneficiário final.
- Visualizar e mapear relacionamentos e riscos em potencial.
- Identificar e rastrear imediatamente UBOs relevantes para descobrir links para crimes financeiros.
Isso permite que os profissionais da área de compliance identifiquem riscos elevados seguindo uma abordagem baseada em riscos, além de potencializar a eficácia de seus recursos – frequentemente limitados.
Um obstáculo persistente é a falta de dados independentes e confiáveis de UBO. Mas, hoje em dia, soluções de última geração que fornecem dados completos e de qualidade diretamente para sistemas internos permitem que os times de compliance identifiquem os UBOs de maneira rápida e fácil. Assim, qualquer conexão com crimes financeiros pode ser rastreada.
Nossa pesquisa mostrou claramente que a disseminação desse tipo de delito é ampla.
Para se ter uma ideia, na sondagem de 2018, 47% das organizações diziam ter sido vítimas de algum crime financeiro no ano anterior; já em 2019, esse percentual saltou para 72%.
Dada a natureza contínua e difusa do crime financeiro, as organizações não podem permitir que as lacunas nas informações de UBO permaneçam. As empresas e instituições financeiras precisam pesquisar urgentemente sobre as novas soluções disponíveis para a área, não apenas para se protegerem, mas também como parte de esforços globais mais amplos de combate à corrupção.