Entenda como o impacto do Covid-19 sobre a demanda mundial de petróleo afetou o pacto entre Rússia e Arábia Saudita que sustentou os preços do petróleo acima de US$ 50 por barril nos últimos três anos.
A cooperação entre os russos e a Opep, liderada pela Arábia Saudita, chegou a um fim abrupto (e amargo) em Viena, na última sexta-feira. Os preços do petróleo já haviam despencado 9% na sexta-feira, e nesta segunda levaram um tombo de 25%, para menos de US$ 34 o barril, a maior queda nos preços do petróleo em cerca de 30 anos.
(Clique aqui para acessar o Relatório de Pesquisa em Petróleo da Refinitiv, intitulado ‘Saudi Arabia sets the stage for a high stake market share battle’, de Ranjith Raja, gerente de pesquisa de petróleo).
Durante o dia caótico para as bolsas globais (09 de março) que se seguiu ao rompimento do pacto entre os dois maiores fornecedores de petróleo do mundo, a Reuters News, exclusiva da Refinitiv, divulgou manchetes fundamentais para os mercados bem antes de todos os outros fornecedores de notícias. Afinal, para os repórteres do setor, o que importa são as suas fontes; quem precisa esperar por um comunicado de imprensa, está perdido.
Com a demanda global de petróleo prejudicada pelo Coronavirus, o OPEP+ (nome pelo qual era conhecido o pacto entre Rússia e Arábia Saudita) deveria agora implementar medidas para cortar um adicional de 1,5 milhão de barris por dia do mercado mundial de 90 milhões (bpd) –além dos 2,1 milhões (bpd) que já haviam sido cortados até aqui. Mas, além de não ter havido acordo algum sobre essa nova restrição de fornecimento, as existentes expiram no final de abril.
Exatamente o que aconteceu na sexta-feira passada (6 de março) ainda não foi relatado. Porém, há poucas dúvidas de que tenha sido Moscou a desistir do negócio. O presidente Vladimir Putin e seu “homem forte do petróleo” Igor Sechin, CEO da Rosneft, há muito se preocupam com o fato de que suas restrições de produção estão ajudando a apoiar a indústria de xisto dos EUA. Desde que a Rússia se uniu a Riad, em 2017, a maioria dos cortes do OPEP+ foi compensada por mais produção nos campos de Permian Basin, no Texas. Os outros grandes produtores de xisto dos EUA, Eagle Ford e Bakken, que sofrem devido à queda dos preços, estariam em situação ainda pior sem a ajuda da Opep e da Rússia.
A situação geopolítica também mudou nos últimos três anos. Putin e Sechin definitivamente não querem fazer mais favores à indústria petrolífera dos EUA, principalmente depois que sanções norte-americanas foram impostas à Rosneft.
Como acompanhar os desenvolvimentos:
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O que vemos agora é uma guerra de preços do petróleo. A Arábia Saudita deu o primeiro tiro no sábado, ao anunciar enormes cortes nos preços oficiais para o principal índice de exportação, o Arab Light. Essas são boas notícias para os seus maiores clientes –China, Coréia do Sul e Índia—,e alguma compensação pelas perdas econômicas causadas pelo novo vírus.
O histórico de cooperação quando se trata de produção de petróleo (ou a falta dela) sugere que haverá uma corrida de curto prazo para maximizar a produção e roubar participação de mercado dos competidores. E o que está em jogo é o resultado final: medido pelo preço e multiplicado pela produção.
Em tempos de dificuldades, se os países não concordarem em aumentar os preços compartilhando o ônus das restrições de produção, a única forma de compensação é liquidando todos os barris possíveis. Se for possível fazer isso com lucro, tudo bem.
Mas com a cotação caindo, manter uma produção lucrativa depende de quanto a petrolífera gasta para extrair o produto. A Arábia Saudita tem, de longe, o maior volume de suprimento pelo menor custo. Seus aliados no Golfo Pérsico, Emirados Árabes Unidos e Kuwait, também podem ajudar abrindo as suas torneiras. Outros produtores de petróleo não conseguem bombear muito mais a preços tão baixos, mas eles certamente farão todo o possível.
Em meio a esse cenário, as consequências podem ser drásticas. Os tempos não devem ser nada fáceis para as principais empresas de petróleo –que já se encontram sob enorme pressão dos investidores devido às questões de ESG e pelo coronavírus— e para a altamente endividada indústria de xisto dos EUA. Também deverão ser revistos os orçamentos e gastos dos países produtores de petróleo e das indústrias e empresas em regiões dependentes do desse setor, como no Oriente Médio.
O petróleo mais barato beneficiará grandes importadores como Índia e China, e funcionará como um corte de impostos para os consumidores, particularmente nos EUA, onde os custos de matérias-primas oscilam bastante de acordo com o preço do combustível.
Aliás, gasolina barata pode ser últil ao presidente Trump, que enfrentará a eleição de novembro ainda sob os inevitáveis efeitos do coronavírus para a economia de seus país.
Nada disso o ajudará no Texas, mas certamente esse é um território seguro para Trump. E, após ter feito um enorme favor aos produtores de petróleo (texanos e da Opep), ao impor sanções ao Irã e à Venezuela, ele pode ficar tentado a dobrar as sanções sobre a Rosneft para atenuar a baixa nas cotações?
Arábia Saudita e Rússia uniram forças para apoiar os preços do petróleo no final de 2016, depois que a política de pump-at-will (algo como bombear à vontade, em tradução livre) da Arábia Saudita não gerou muitos danos à indústria de xisto dos EUA. Agora, três anos depois, essa nova guerra de preços nocauteará os norte-americanos ou forçará a Rússia e os sauditas a retomarem as negociações?
A atenção agora volta-se para quem irá capitular primeiro. A Rússia está em uma posição financeira mais forte em relação à Arábia Saudita do que há três anos –com cerca de US$ 80 bilhões a mais em reservas do que Riad—, e portanto, em melhor posição para enfrentar uma guerra de preços.
Enquanto o Riyal saudita está atrelado ao dólar americano, a moeda flexível da Rússia garante que o equilíbrio do orçamento pode ser obtido com US$ 40 por barril, em comparação aos mais de US$ 80 para a Arábia Saudita. Isso torna improvável que Moscou peça arrego primeiro. Como vemos, a Arábia Saudita e a Opep podem precisar se virar sozinhas se quiserem resgatar o mercado de petróleo.
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