De acordo com as mais recentes atualizações do Indicador de Vulnerabilidade Financeira da Fathom Consulting, que estima a probabilidade de crises soberanas, monetárias e bancárias, há níveis crescentes de risco soberano em economias emergentes.
- O Indicador de Vulnerabilidade Financeira (FVI, na sigla em inglês) da Fathom Consulting, empresa parceira da Refinitiv, fornece uma avaliação abrangente do risco soberano, cambial e bancário de 176 países. O FVI está disponível para clientes Refinitiv via Datastream.
- Os dados mais recentes do FVI mostram um aumento na probabilidade de crise soberana em economias emergentes, refletindo um crescimento global mais lento –à medida que o efeito da retomada pós-Covid-19 se dissipa— e uma política monetária mais rígida.
- A Índia é um exemplo de país em que as vulnerabilidades ao risco soberano estão crescendo, com as interligações do mercado financeiro e da balança comercial tornando-a mais vulnerável a desenvolvimentos externos.
Prever quando haverá uma crise financeira não é tarefa fácil. No entanto, para quem precisa e busca proteção contra esse tipo de risco, há uma boa notícia: se examinados de perto, é possível ver que esses eventos tendem a ser precedidos por alguns sinais de alerta. E, ao combinarmos novas técnicas de modelagem com lições do passado, podemos, sim, detectar essas “luzes piscantes” e identificar pontos de vulnerabilidade antes que o mercado os exponha.
Análise do passado para previsão do futuro
Em uma de suas famosas frases, o escritor norte-americano Mark Twain disse: “a história nunca se repete, mas muitas vezes rima”. Podemos afirmar que essa máxima serve como princípio-base para o Indicador de Vulnerabilidade Financeira (FVI) da Fathom Consulting, que avalia, trimestralmente, a probabilidade de crises bancárias, soberanas e monetárias em 176 países.
Para realizar esse trabalho, o FVI se baseia no mais renomado banco de dados acadêmico sobre o tema, Laeven e Valencia, que tem catalogadas crises financeiras a partir de 1970.
A partir da modelagem de crises passadas, a Fathom consegue quantificar a importância relativa dos fatores que impulsionaram cada uma delas. Porém, apenas esse registro histórico não é suficiente; prever crises futuras também requer o uso das melhores ferramentas e dados analíticos atuais. E um grande desafio de fazer isso em economias emergentes é a indisponibilidade e/ou qualidade irregular dos dados.
Para resolver o problema, preenchendo as lacunas nos conjuntos de dados, o FVI recorre a um algoritmo de Machine Learning (ML). Assim, em vez de simplesmente calcular a média entre os países ou descartar algum deles devido à falta de cobertura para determinadas séries, a abordagem “K Nearest Neighbour’” atribui uma variável proxy com base nas semelhanças com outros países. Isso torna o FVI uma ferramenta muito mais precisa, abrangente e que não é afetada pela (eventual) baixa qualidade dos dados.
Risco-país em mercados emergentes
Mas, o que o FVI está dizendo neste momento?
Em relação ao risco soberano (ou risco-país, como também é conhecido), o FVI está identificando uma probabilidade historicamente alta, que supera até os níveis observados durante a primavera árabe, de que ele venha a ocorrer nas economias emergentes.
É importante dizer que o FVI permite que os riscos soberanos sejam analisados em grupos de risco, agregando países com chances semelhantes de vivenciar uma crise. E os dados demonstram que mais de um terço dos mercados emergentes encontram-se agora em um dos três principais grupos de risco, com pelo menos uma chance em 25 de inadimplência ou reestruturação de sua dívida. Isso reflete, em parte, a exposição desses países à desaceleração da atividade econômica global e ao aperto generalizado da política monetária.
A Índia está em risco de inadimplência?
Segundo o FVI, em que países esses riscos são maiores?
Bem, tem se discutido bastante sobre as perspectivas do Paquistão depois que suas reservas cambiais se esgotaram e o governo do país iniciou negociações formais com o FMI a respeito de um possível resgate.
Outra fonte de preocupação (porém, bem menos do que o Paquistão) tem sido a Índia, onde o FVI também vê o risco-país em elevação.
No âmbito doméstico, isso se deve, em boa parte, aos crescentes rendimentos de seus títulos. O FVI chama a atenção para mudanças repentinas nas variáveis macroeconômicas e do mercado financeiro da Índia e para o rendimento dos títulos de dez anos, que aumentou acentuadamente em 2021 e no início de 2022 após um período de declínio gradual e resultados estáveis.
No sistema financeiro atual, nenhum homem é uma ilha. Assim, o FVI procura captar o impacto dos desenvolvimentos globais, bem como o contágio por eventos ocorridos no exterior. E, como se sabe, quanto mais central é um país para as redes globais, mais ele é impactado por desenvolvimentos externos.
Esses impactos podem ser particularmente fortes quando há comércio direto e vínculos de mercado com lugares onde as vulnerabilidades estão surgindo.
Com os Estados Unidos e a Europa respondendo por mais de 40% das exportações indianas, o crescimento fraco e as possíveis recessões nessas economias podem ter um efeito negativo sobre Índia no próximo ano.
Além disso, por causa de sua dependência de influxos de capital, a Índia também pode ser contaminada pelos rendimentos de títulos mais altos no exterior –situação que não dá sinais de que vá mudar e retornar ao que foi ao longo da última década.
Por outro lado, também é preciso lembrar que a Índia tem uma dívida externa baixa em comparação a seus pares e um nível saudável de reservas cambiais, o que a ajudará a navegar pelo mar revolto que vai se delineando. Enquanto isso, o FVI continuará monitorando as ondas de perto.
Os clientes da Refinitiv podem acessar o FVI via Datastream de forma agregada, com séries trimestrais disponíveis para todos os três tipos de crise desde 2010. A agregação é baseada em regiões geográficas, mas também em nível de renda e por categorização do FMI e MSCI.