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Cresce risco-país de mercados emergentes

William Hynes
William Hynes
Senior Economist, Fathom Consulting

De acordo com as mais recentes atualizações do Indicador de Vulnerabilidade Financeira da Fathom Consulting, que estima a probabilidade de crises soberanas, monetárias e bancárias, há níveis crescentes de risco soberano em economias emergentes.


  1. O Indicador de Vulnerabilidade Financeira (FVI, na sigla em inglês) da Fathom Consulting, empresa parceira da Refinitiv, fornece uma avaliação abrangente do risco soberano, cambial e bancário de 176 países. O FVI está disponível para clientes Refinitiv via Datastream.
  2. Os dados mais recentes do FVI mostram um aumento na probabilidade de crise soberana em economias emergentes, refletindo um crescimento global mais lento –à medida que o efeito da retomada pós-Covid-19 se dissipa— e uma política monetária mais rígida.
  3. A Índia é um exemplo de país em que as vulnerabilidades ao risco soberano estão crescendo, com as interligações do mercado financeiro e da balança comercial tornando-a mais vulnerável a desenvolvimentos externos.

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Prever quando haverá uma crise financeira não é tarefa fácil. No entanto, para quem precisa e busca proteção contra esse tipo de risco, há uma boa notícia: se examinados de perto, é possível ver que esses eventos tendem a ser precedidos por alguns sinais de alerta. E, ao combinarmos novas técnicas de modelagem com lições do passado, podemos, sim, detectar essas “luzes piscantes” e identificar pontos de vulnerabilidade antes que o mercado os exponha.

Análise do passado para previsão do futuro

Em uma de suas famosas frases, o escritor norte-americano Mark Twain disse: “a história nunca se repete, mas muitas vezes rima”. Podemos afirmar que essa máxima serve como princípio-base para o Indicador de Vulnerabilidade Financeira (FVI) da Fathom Consulting, que avalia, trimestralmente, a probabilidade de crises bancárias, soberanas e monetárias em 176 países.

Para realizar esse trabalho, o FVI se baseia no mais renomado banco de dados acadêmico sobre o tema, Laeven e Valencia, que tem catalogadas crises financeiras a partir de 1970.

A partir da modelagem de crises passadas, a Fathom consegue quantificar a importância relativa dos fatores que impulsionaram cada uma delas. Porém, apenas esse registro histórico não é suficiente; prever crises futuras também requer o uso das melhores ferramentas e dados analíticos atuais. E um grande desafio de fazer isso em economias emergentes é a indisponibilidade e/ou qualidade irregular dos dados.

Para resolver o problema, preenchendo as lacunas nos conjuntos de dados, o FVI recorre a um algoritmo de Machine Learning (ML). Assim, em vez de simplesmente calcular a média entre os países ou descartar algum deles devido à falta de cobertura para determinadas séries, a abordagem “K Nearest Neighbour’” atribui uma variável proxy com base nas semelhanças com outros países. Isso torna o FVI uma ferramenta muito mais precisa, abrangente e que não é afetada pela (eventual) baixa qualidade dos dados.

Risco-país em mercados emergentes

Mas, o que o FVI está dizendo neste momento?

Em relação ao risco soberano (ou risco-país, como também é conhecido), o FVI está identificando uma probabilidade historicamente alta, que supera até os níveis observados durante a primavera árabe, de que ele venha a ocorrer nas economias emergentes.

É importante dizer que o FVI permite que os riscos soberanos sejam analisados em grupos de risco, agregando países com chances semelhantes de vivenciar uma crise. E os dados demonstram que mais de um terço dos mercados emergentes encontram-se agora em um dos três principais grupos de risco, com pelo menos uma chance em 25 de inadimplência ou reestruturação de sua dívida. Isso reflete, em parte, a exposição desses países à desaceleração da atividade econômica global e ao aperto generalizado da política monetária.

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A Índia está em risco de inadimplência?

Segundo o FVI, em que países esses riscos são maiores?

Bem, tem se discutido bastante sobre as perspectivas do Paquistão depois que suas reservas cambiais se esgotaram e o governo do país iniciou negociações formais com o FMI a respeito de um possível resgate.

Outra fonte de preocupação (porém, bem menos do que o Paquistão) tem sido a Índia, onde o FVI também vê o risco-país em elevação.

No âmbito doméstico, isso se deve, em boa parte, aos crescentes rendimentos de seus títulos. O FVI chama a atenção para mudanças repentinas nas variáveis macroeconômicas e do mercado financeiro da Índia e para o rendimento dos títulos de dez anos, que aumentou acentuadamente em 2021 e no início de 2022 após um período de declínio gradual e resultados estáveis.

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No sistema financeiro atual, nenhum homem é uma ilha. Assim, o FVI procura captar o impacto dos desenvolvimentos globais, bem como o contágio por eventos ocorridos no exterior. E, como se sabe, quanto mais central é um país para as redes globais, mais ele é impactado por desenvolvimentos externos.

Esses impactos podem ser particularmente fortes quando há comércio direto e vínculos de mercado com lugares onde as vulnerabilidades estão surgindo.

Com os Estados Unidos e a Europa respondendo por mais de 40% das exportações indianas, o crescimento fraco e as possíveis recessões nessas economias podem ter um efeito negativo sobre Índia no próximo ano.

Além disso, por causa de sua dependência de influxos de capital, a Índia também pode ser contaminada pelos rendimentos de títulos mais altos no exterior –situação que não dá sinais de que vá mudar e retornar ao que foi ao longo da última década.

Por outro lado, também é preciso lembrar que a Índia tem uma dívida externa baixa em comparação a seus pares e um nível saudável de reservas cambiais, o que a ajudará a navegar pelo mar revolto que vai se delineando. Enquanto isso, o FVI continuará monitorando as ondas de perto.

Os clientes da Refinitiv podem acessar o FVI via Datastream de forma agregada, com séries trimestrais disponíveis para todos os três tipos de crise desde 2010. A agregação é baseada em regiões geográficas, mas também em nível de renda e por categorização do FMI e MSCI.

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