Em um novo episódio de Corona Correction – série promovida pela Refinitiv em conjunto com o Real Vision Group para discutir os desdobramentos da crise econômica global—, Corey Stewart, nosso analista sênior de energia, aborda os efeitos da atual pandemia sobre a demanda energética no país.
O Brasil é um importante player no cenário global de energia, mas nos últimos meses, diante da gravidade da crise sanitária no país, os prejuízos foram sentidos tanto pela indústria local quanto pelos mercados internacionais.
Para jogar luz sobre esse tema, neste 40º capítulo de “Corona Correction”, o apresentador Roger Hirst recebeu Corey Stewart, que com seu olhar aguçado sobre o panorama energético das Américas, traz explicações precisas sobre como a pandemia de coronavírus vem interferindo no desempenho do setor –interna e externamente.
A seguir, confira os principais momentos da conversa com o analista sênior de energia da Refinitiv.
Covid-19 e atraso na recuperação econômica
“Em termos absolutos, o Brasil tem a segunda maior incidência de casos de Covid-19 no mundo. Analisando mais de perto, vemos que a taxa de infecção é ligeiramente melhor do que a dos EUA (de 1,3%), porém a taxa de mortalidade é maior, 3,5%. Não é o país em pior condição, mas certamente não é o melhor.
Olhando primeiro para o crescimento econômico, constatamos que o coronavírus certamente não poupou o Brasil. Depois de começar a emergir da recessão em 2017, o avanço da economia brasileira tem sido lento. Em 2019, o PIB cresceu cerca de 1,1%, mas o FMI prevê que a Covid-19 gere uma contração de mais de 5% em 2020.
E, quando se trata da América do Sul, o Brasil responde por quase metade de tudo. Afinal, a sua população representa cerca de 50% de todos os habitantes da região e, no que diz respeito ao meu setor, o energético, o país é responsável por 55% do petróleo bruto produzido nessa área.”
Consumo de GLP em alta durante a quarentena
“Como se isso não bastasse, aproximadamente metade da demanda de produtos refinados e 42% da capacidade de refino da América do Sul vêm do Brasil. Além de ser um indicador da atividade econômica, o consumo desses produtos é importante no contexto da demanda mundial de energia e das exportações dos EUA.
Quando falamos sobre esses produtos refinados, geralmente pensamos em três coisas: gasolina, diesel e combustível para aviação. No entanto, para alguns países, o GLP também tem grande importância. No Brasil, por exemplo, ele é importante para cozinhar e, como grande parte da população foi forçada a ficar em casa recentemente, esse é o único dos refinados que apresentou um aumento na demanda –na verdade, houve um pico de consumo que chegou até a causar interrupções na cadeia de abastecimento do GLP. De agora em diante, com as coisas começando a voltar ao normal, podemos esperar um achatamento dessa demanda.”
Brasil em sintonia com o exterior
“Ao considerar os produtos refinados, vejo a situação brasileira em linha com a do resto do mundo. Ou seja, a gasolina sofreu um impacto, mas deve se recuperar com o relaxamento da quarentena; e o diesel nem chegou a ser tão afetado. Já a demanda por combustível de aviação, bem prejudicada, corre o risco de não voltar ao normal por um bom tempo. Na esfera global, é provável que a gasolina e o diesel retornem aos níveis anteriores à pandemia, mas sem registrar nenhum crescimento real nos próximos anos. Enquanto isso, a demanda por combustível de aviação deverá seguir reduzida até depois de 2021.”
Quedas nas importações dos EUA
“Se por um lado, a demanda interna de diesel caiu pouco em relação a outros combustíveis, por outro, a importação brasileira de destilados médios (diesel e combustível de aviação) dos EUA foi reduzida de 156.000 barris/dia em 2019 para 125.000 barris/dia entre os meses de janeiro e junho de 2020. Se olharmos apenas para o período entre março e junho, esse número cai ainda mais: 95.000 barris/dia.
Essa redução na importação dos EUA aconteceu mesmo com a capacidade de refino do Brasil passando de 76% para pouco mais de 50% durante o auge da pandemia. Aliás, das dezessete refinarias do país, a Petrobras opera quinze, e recentemente colocou oito delas à venda, já que encerraram o ano de 2019 com $87 bilhões de dólares em dívidas. A pandemia acabou prejudicando os negócios, mas uma delas parece estar finalmente sendo vendida.”
Brasil de olho no mercado global
“Apesar de a Covid-19 ter atingido em cheio a produção offshore do Brasil, a demanda global por petróleo bruto do país foi suficiente para manter a produção em alta. As aspirações brasileiras –mais especificamente, da Petrobras— são aumentar a participação no mercado mundial da commodity. Na verdade, quando a pandemia começou, a Petrobras anunciou um corte de produção para 2020, mas logo teve que reverter o curso devido à alta demanda.
O Brasil é um exportador líquido de mercadorias, com as principais exportações sendo produtos agrícolas, minério de ferro e petróleo bruto. E para onde vão todas essas mercadorias? Bem, cerca de um terço segue para a China, e metade, para os Estados Unidos. Estou, claro, mais preocupado com a parte referente ao petróleo bruto. Se em 2017, 28% dessas remessas eram para a China, agora esse número gira em torno de 50 a 60%. O país asiático tem demonstrado interesse em aumentar ainda mais esse volume, mas com a reabertura da economia em curso na maior parte do território brasileiro, as refinarias domésticas estão focadas em acelerar as operações para atender à demanda local. À medida que formos emergindo desta pandemia, a demanda por produtos refinados retornará, mesmo que a forma de trabalhar tenha mudado para muitos de nós. Afinal, a própria Petrobras, uma empresa de energia, prevê que 50% de seu pessoal administrativo trabalhe de casa permanentemente.”
Para obter mais informações sobre o panorama energético do hemisfério ocidental (do norte do Canadá à ponta mais ao sul do Chile), acesse o podcast The Rundown Tank: America’s Oil, de Corey Stewart e Jim Mitchell.