As moedas dos mercados emergentes vão enfrentar dificuldades nos próximos três meses contra um dólar mais forte, devido ao aumento das tensões entre Estados Unidos e China sobre a pandemia de coronavírus, mostrou uma pesquisa da Reuters com estrategistas de câmbio.
No momento em que operadores se acostumavam com um afrouxamento sem precedentes da política monetária e alguns investidores estavam um pouco mais dispostos a fazer apostas arriscadas em busca de rendimentos mais altos, o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou Pequim com novas tarifas.
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Isso realçou os atrativos das moedas de refúgio e sustentou o dólar, mesmo depois uma recuperação de 30% em Wall Street nas últimas semanas, após uma queda inicial de mais de um terço, quando o vírus se tornou uma pandemia.
“É provável que isso afete seriamente o rali difícil de entender e que desafia a matéria que vimos em grande parte da semana”, disse Michael Every, estrategista global do Rabobank em Hong Kong.
De fato, 22 dos 56 estrategistas e analistas de mercado entrevistados de 4 a 6 de maio disseram que as moedas dos principais mercados emergentes –a maioria dos quais exporta matérias-primas para a China– corre o risco de se enfraquecer modestamente nos próximos três meses, à medida que as divisas consideradas seguras permanecem populares. Dezesseis disseram que ficarão em torno dos níveis atuais. EUR/POLL
Muitos entrevistados disseram que haverá maior volatilidade cambial à frente.
A maioria das moedas emergentes se estabilizou após cair para mínimas de três anos no final de março, um dos piores meses já registrados, com uma perda de 3,5%. Elas recuam cerca de 6% como um todo desde o início de 2020, de acordo com o índice MSCI .MIEM00000CUS.
Embora a pandemia tenha diminuído na China por enquanto, uma possível retomada da guerra comercial entre EUA e China incentivará as autoridades de Pequim a manter um controle forte na moeda iuan, que é parcialmente gerenciada, sugeriu a pesquisa.
Depois de enfraquecer para uma mínima de um mês na quarta-feira, o iuan –mais negociada moeda emergente– deve ir a 7,05 por dólar em três meses, perto de onde estava na quarta-feira, subindo para 7,01 por dólar em seis meses.
A projeção é de que o iuan se valorize cerca de 2%, a 6,95 por dólar, nesta época no próximo ano.
Mas Every, do Rabobank, como alguns outros analistas, disse que o otimismo dos investidores visto nas últimas semanas parece prematuro.
“Os principais níveis a serem observados são 7,15, o mais alto neste ano, e 7,19, o maior antes da assinatura do ‘acordo comercial de Fase 1′”, disse.
“Atravesse o segundo patamar e estaremos em um túnel escuro e assustador… e não sabemos se a luz que vemos à frente é uma saída ou apenas o reflexo do olho de um monstro.”
O rand da África do Sul ZAR=D3 –sustentado por uma taxa de juros mais alta, mas altamente volátil– provavelmente terá ganhos modestos este ano, mas trará retornos de quase 10%, chegando a 16,80 por dólar em 12 meses, contra os cerca de 18,50 por dólar atualmente.
“Os investidores às vezes usam moedas de mercados emergentes de baixo rendimento como estratégia defensiva, mas quando o apetite ao risco melhorar, eles provavelmente irão para países como a África do Sul, onde os rendimentos são os mais altos em termos nominais e reais”, disse o estrategista de moeda da Absa Capital, Mike Keenan, em Joanesburgo.
“A volatilidade ainda está alta em relação aos picos do mês passado. Só reduzirá ainda mais se tivermos um pouco mais de melhora na situação do Covid e (contanto que) qualquer tipo de tensão entre EUA e China não se acenda”, acrescentou Keenan.