O real permanecerá sob estresse nos próximos meses, à medida que os parlamentares investigam a resposta do governo à pandemia do coronavírus, adicionando uma nova fonte de controvérsia ao tenso clima político do Brasil, mostrou uma pesquisa da Reuters.
Embora a moeda doméstica tenha recuperado parte das perdas deste ano em abril, auxiliada pelo posicionamento mais “hawkish” (duro com a inflação) do Banco Central, ela continua sujeita a crescentes tensões em Brasília.
O Congresso Nacional instalou a CPI da Covid-19 para investigar o manejo da crise do coronavírus pelo presidente Jair Bolsonaro, que negou repetidamente a gravidade da pandemia, se opôs a lockdowns e demorou a garantir o fornecimento de vacinas contra a doença no ano passado.
“Riscos na política fiscal, um panorama político turbulento, incertezas em relação à pandemia e uma taxa de juros real próxima de seu nível mais baixo (…) devem impedir o fortalecimento do real”, disse Hélcio Takeda, sócio sênior da Pezco.
Refletindo a preocupação com a perspectiva para o real, as medianas das estimativas para seu valor em um, três e seis meses ficaram entre 5,39 e 5,485 por dólar na pesquisa Reuters realizada de 3 a 4 de maio. O dólar fechou a quarta-feira em 5,3652 reais.
Em um ano, o real deve ser negociado a 5,27 por dólar, um ganho potencial nominal de 1,81% em relação ao seu valor atual, de acordo com a mediana das projeções de 22 entrevistados. No entanto, não será uma jornada fácil.
“Entramos em uma ideia de negociação comprada no par dólar/real, pois nosso modelo sugere que, quando uma moeda está em um nível extremo em termos de sua posição técnica, está exposta a uma correção de curto prazo”, disse Luca Maia, estrategista para a América Latina do BNP Paribas.
Ainda assim, ele delineou uma perspectiva de médio prazo mais otimista, impulsionada por melhores perspectivas para os termos de troca do Brasil e um spread cada vez maior entre as taxas de juros domésticas e dos Estados Unidos, à medida que o Banco Central normaliza sua política monetária.
No México, o peso deve continuar em torno de 20 por dólar, perdendo apenas 0,4%, em 12 meses. Desde o início de 2021, a moeda acumula queda de 1,7%, em comparação com uma desvalorização de 4,3% do real no ano.
As autoridades mexicanas têm adotado um discurso mais pró-mercado antes das eleições nacionais, estaduais e municipais do mês que vem, em que o partido do presidente Andrés Manuel López Obrador deve solidificar seu poder.