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Inflação pressionada cria cenário de forte alta dos juros pelo Fed em março

Ann Saphir
Ann Saphir
Financial reporter, Reuters
Lindsay Dunsmuir
Lindsay Dunsmuir
Jornalista, Reuters

A forte e esperada alta dos preços ao consumidor nos Estados Unidos no mês passado reforçou a visão de que o Federal Reserve está atrás da curva na luta contra a inflação mais intensa desde o início dos anos 1980 e precisa tomar medidas rápidas para começar a recuperar o terreno perdido.

Com o aumento drástico das apostas de investidores de que o banco central dos EUA terá de começar com uma alta mais robusta de 50 pontos-base na taxa de juros ao fim de sua reunião de 15 e 16 de março, o debate interno no Fed certamente se intensificará nas próximas semanas enquanto a pressão do mercado cresce apesar da resistência pública das autoridades a uma subida tão grande nos custos de empréstimos.

“Não acho que haja qualquer argumento convincente para começar com um aumento de 50 pontos-base”, disse a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, na quarta-feira.

Um dia depois, investidores sentiam que o dado de inflação de janeiro virou argumento de cabeça para baixo –os custos das famílias subiram 7,5% nos 12 meses até janeiro–, e participantes do mercado veem chances significativamente altas de uma elevação de 50 pontos-base. Quando Mester falou, a chance era de 25%.

Os formuladores de política monetária do banco central já sinalizaram que começarão a subir a taxa de juros do Fed, atualmente em quase zero, na reunião de março, poucos dias depois de interromper suas compras mensais de bilhões de dólares em títulos do governo, que já duram dois anos, para manter as condições financeiras flexíveis e estimular os empréstimos durante a pandemia de Covid-19.

Para Mark Cabana, chefe de estratégia de taxas de juros dos EUA no Bank of America Global Research, o argumento só fica mais forte à medida que as apostas do mercado em uma alta maior dos juros em março continuam a crescer.

“A lógica para eles irem (para aumento de juros) é convincente”, afirmou ele, além de destacar que isso levaria a política monetária do banco central mais rapidamente para o ponto em que precisa estar considerando a inflação, enquanto mantém os custos de empréstimos ainda muito abaixo do nível em que eles prejudicariam o crescimento econômico.

Sua visão contrasta com a de muitos economistas, inclusive aqueles de seu próprio banco, os quais dizem que o Fed agora está comprometido com incrementos de 0,25 ponto percentual para futuras elevações dos juros.

Em vez de começar com aumentos muito grandes, dizem eles, o banco central apenas acelerará o ritmo de subidas dos juros ante o ritmo de uma alta por trimestre que manteve nos últimos tempos ou começará a reduzir seu balanço patrimonial mais cedo do que o esperado.

Com a divulgação de mais uma pressionada leitura de inflação e mais dados de empregos com divulgação prevista para antes da decisão do Fed em março, ainda não é possível saber se essa tendência se manterá caso os números de preços continuem a chegar mais altos do que o esperado.

Um aumento de 0,50 ponto percentual em março não prejudicaria a economia, dizem economistas, mas o sinal que envia sobre o futuro caminho da política monetária poderia ter efeitos negativos se operadores esperarem aumentos de tamanho semelhante nos juros em reuniões futuras.

Manter as altas nos juros em incrementos de 25 pontos-base permite que o Fed adapte melhor a política monetária aos dados se a inflação esfriar por conta própria em breve –como o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse nesta semana acreditar ser provável.

Uma maneira de quantificar o aperto monetário nas condições financeiras é a taxa “paralela” Wu-Xia, que usa rendimentos dos títulos e outras pistas do mercado para mostrar quão frouxa a política monetária realmente é quando a taxa de juros real está perto de zero.

Após a recessão desencadeada pela pandemia, as compras mensais do Fed de 120 bilhões de dólares em Treasuries e títulos lastreados em hipotecas empurraram essa taxa para -2%. Desde novembro, quando o chair do Fed, Jerome Powell, começou a sinalizar um fim mais rápido do programa de aquisição de ativos e um início antecipado das subidas dos juros, a taxa avançou cerca de 1,65 ponto percentual.

Isso fez com que autoridades como o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, argumentassem não haver muita necessidade de o banco central agir de forma mais incisiva agora, pelo menos no começo.

Narayana Kocherlakota –professor de economia da Universidade de Rochester e conhecido por suas visões “dovish” (menos inclinadas a uma política monetária contracionista) após a recessão de 2007 a 2009, quando foi presidente do Fed de Minneapolis– encara o cenário de maneira diferente e até espera dissidências, incluindo talvez do diretor do Fed Christopher Waller, se o banco central não for mais conservador em março.

“Acho que chegar aos 50 pontos-base agora também coloca esse ritmo à mesa para todas as reuniões daqui para frente… então expande a opcionalidade de uma maneira grande e útil”, afirmou ele. A inflação muito acima do esperado, disse, “merece uma resposta agressiva”.

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