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Um guia para sistemas sustentáveis de identificadores abertos

Toni McDerment
Toni McDerment
Director, Refinitiv Data Model, Refinitiv

Os identificadores abertos (open identifiers) são essenciais para a infraestrutura de dados do mercado de capitais, e estão crescendo em número e capacidade à medida que o setor reconhece seu valor. De acordo com um novo relatório da Refinitiv e do Open Data Institute (ODI), para serem sustentáveis ​​no longo prazo, os sistemas de identificadores devem equilibrar transparência e independência com viabilidade financeira, o que, convenhamos, está longe de ser uma tarefa fácil.


  1. Os sistemas de identificadores abertos (open identifiers) estão aumentando em número e potência, além de se tornarem cada vez mais valiosos para os usuários.
  2. Para que um sistema de open identifiers seja viável a longo prazo, deve-se ​​considerar questões inter-relacionadas de governança, custo e, principalmente, receita.
  3. As comunidades de usuários devem estar engajadas no desenvolvimento de projetos sustentáveis de identificadores para que eles realmente agreguem valor aos negócios.

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O relatório “Sustainable Stewardship of Open Identifiers”, da Refinitiv, complementa um artigo anterior de 2016, de autoria da Thomson Reuters e do Open Data Institute (ODI) e entitulado Creating Value With Identifiers in an Open Data World”. Esse documento fornecia diretrizes para os sistemas de identificadores e foi responsável por jogar luz sobre as suas diferentes possibilidades de agregação de valor.

Tendências em open identifiers

O estudo mais recente da Refinitiv analisa as tendências relacionadas aos identificadores abertos nos últimos cinco anos, e examina os níveis de governança e de investimento necessários para garantir que essas ferramentas possam ser criadas, acessadas, usadas ​​e compartilhadas de forma sustentável.

Ele ainda aborda o valor de identificadores abertos para a integração de dados, detecção de fraudes, cadeias de suprimentos e transparência de infraestrutura, e faz um alerta sobre os prejuízos causados pela falta de identificadores em comum, como redução de qualidade dos dados e maior dificuldade nos processos de tomada de decisão.

A título de exemplo, o relatório destaca a crise financeira de 2008 –em grande parte deflagrada pela falta de compartilhamento de identificadores para a gestão de risco que pudessem ter identificado as exposições das instituições financeiras às contrapartes— e destaca que logo após o ocorrido passou a vigorar o Identificador de Entidade Jurídica (LEI, na sigla em inglês) global.

O objetivo do artigo é contribuir para uma discussão ampla sobre a criação de sistemas de identificadores que sejam mais sustentáveis ​​e confiáveis e ​​que fortalecerão a infraestrutura de dados compartilhados no longo prazo.

Baixe o relatório “Sustainable Stewardship of Open Identifiers”

Identificadores abertos: revisão dos últimos cinco anos

As principais tendências dos últimos cinco anos identificadas no documento da Refinitiv incluem:

  • Uma mudança para identificadores persistentes abertos (open persistent identifiers) como forma de melhorar o gerenciamento e o compartilhamento de dados (isso engloba identificadores como o LEI e o Refinitiv PermID).
  • Uso crescente de plataformas (Wikidata, por exemplo) como câmaras de compensação para fazer mapeamentos entre sistemas de identificadores, além do papel fundamental dos serviços de resolução (como org).
  • A importância do contexto e da documentação dos sistemas de identificadores a fim de garantir proveniência e uso (e reuso) éticos de dados de fontes múltiplas para uma variedade de aplicações.

Sustentabilidade das estruturas de identificadores

Com base na publicação anterior, de 2016, o novo estudo também se debruçou sobre a sustentabilidade dos projetos de identificadores.

Ele lista cinco características indispensáveis para os identificadores: singularidade, persistência, utilidade, confiabilidade e transparência –e observa que esses atributos são interdependentes.

As decisões sobre como implementá-las serão cruciais para determinar a governança e o financiamento de uma estrutura de identificadores.

Governança

Normalmente, os sistemas de identificadores têm quatro elementos de governança, todos com a inclusão de custos para coordenação dos stakeholders, gerenciamento de processos e desenvolvimento e manutenção de infraestrutura técnica e de dados. As áreas são:

  • Governança geral do sistema – para permitir que a sua estrutura, incluindo padrões de dados, seja adaptada às novas necessidades do usuário, ou para decidir quais organizações têm permissão para atribuir identificadores
  • O processo de atribuição – para alocar novos identificadores a objetos relevantes, seja centralmente, por uma única organização, ou por meio de uma federação de organizações colaboradoras; ou ainda de forma descentralizada, na qual organizações autorizadas criam seus próprios identificadores conforme necessário
  • Gerenciamento do registro do identificador – o registro pode ser uma lista de identificadores com metadados descritivos e administrativos, ou um banco de dados mais complexo de informações sobre cada objeto no registro
  • Serviços de suporte – APIs, serviços de correspondência e funcionalidades de pesquisa, que facilitarão o uso de todo o sistema de identificadores

Veja a tabela abaixo, com um exemplo de estrutura de governança.

Estrutura de governança

Refinitiv PermID

Um exemplo de estrutura centralizada (com um registro centralizado, pesquisa de identificador e APIs de pesquisa de metadados) é o Refinitiv PermID, que consegue identificar organizações, instrumentos, fundos e pessoas, pelo Refinitiv Information Model.

O Refinitiv PermID foi inicialmente desenvolvido para nosso uso interno –para permitir que dados de sistemas separados fossem compartilhados em uma base corporativa. Mas logo ficou claro que os nossos clientes precisavam da mesma solução, e o identificador foi disponibilizado via PermID.org. Desde então, ele vem sendo amplamente adotado por inúmeras organizações para vincular conjuntos de dados e acessar metadados.

O desenvolvimento de padrões e a governança de dados, bem como as atribuições dos identificadores, são executados internamente pela Refinitiv, que é a única fonte de financiamento para a estrutura.

E à medida que a comunidade de usuários do PermID aumenta, a sua estrutura pode evoluir para atender ainda mais às necessidades das empresas, contribuindo para a retenção e crescimento dos clientes.

Uma maneira de fazer isso seria tornar os padrões e a governança do sistema mais abertos. Por exemplo, a elaboração e a manutenção de terceiros permitiriam aos usuários criar e manter PermIDs.

Isso, no entanto, resultaria em novos problemas de governança, já que diferentes clientes podem priorizar necessidades distintas (ou mesmo conflitantes) que talvez não se alinhem com as da Refinitiv. Navegar por essas complexidades provavelmente levantará questões a respeito da governança e do financiamento de longo prazo.

Financiamento de sistemas de identificadores

A sustentabilidade dos sistemas de identificadores depende muito do financiamento, mas também de fatores como stakeholders e gerenciamento de produtos, além de política e governança de dados.

A pesquisa do Open Data Institute (ODI) sobre instituições de dados –frequentemente chamadas de fundações, agências de registro ou registradoras de empresas— aponta três requisitos para a sustentabilidade:

  • Um modelo de receita sustentável baseado em uma combinação de fontes de receita.
  • Demanda contínua por identificadores (tanto por parte dos usuários quanto dos usuários finais que são atendidos por eles.
  • Governança suficiente para que os objetivos da organização sejam alcançados ao longo do tempo

Estabilidade financeira é uma das contribuições mais importantes para que um sistema de identificadores seja sustentável, embora o nível de investimento possar variar bastante conforme o projeto e o grau de consolidação da estrutura.

As fontes de receita incluem aquelas que vieram de faturamento (do fornecimento de serviços de transação ou de taxas de associação) e as obtidas por meio de subsídios, doações ou patrocínios.

A maioria das instituições de dados recorre a uma combinação de fluxos de receita para pagar por custos relacionados a gerenciamento de dados e atribuições dos identificadores, além das despesas com contratação de pessoal e ativos físicos.

O objetivo é recuperar o capital investido em determinado momento (o que pode ser alcançado de várias maneiras), mas isso acaba sendo algo secundário. Para que os sistemas de identificadores realmente cumpram seu papel como infraestrutura, é necessário que tenhamos modelos de financiamento e de receitas sustentáveis ​​no longo prazo.

Outros pontos de discussão

O relatório “Sustainable Stewardship of Open Identifiers” traz  ainda algumas observações que podem embasar uma discussão mais aprofundada sobre o tema:

  • A governança e os custos dos sistemas de identificadores devem ser considerados em conjunto, pois estão inter-relacionados. Mas a governança precisa ser independente do mecanismo de entrega de dados.
  • Dados abertos e padrões abertos afetam a sustentabilidade dos sistemas de identificadores de maneiras distintas.
  • Uma administração independente pode contribuir para a sustentabilidade dos sistemas de identificadores.
  • Possíveis conflitos entre os mecanismos para recuperação dos gastos e o tipo de organização que administra um sistema de indentificadores precisam ser abordados.
  • A comunidade de usuários deve estar envolvida nos esforços para criar sistemas sustentáveis.

Em suma, para ser uma parte importante e sustentável da infraestrutura de dados, os sistemas de identificadores precisam equilibrar transparência e independência com viabilidade financeira.

Faça o download do relatório “Sustainable Stewardship of Open Identifiers”