Em um momento em que investidores são pressionados a incorporar métricas sociais em seus processos de alocação de capital, apresentamos um white paper que aborda os cinco mitos mais comuns associados ao ‘S’ da sigla ESG.
- A Refinitiv acaba de lançar um white paper em colaboração com um grupo de parceiros para desconstruir cinco mitos relacionados ao ‘S’ de ESG e explorar as melhores formas de integrar métricas sociais na gestão de investimentos.
- Entre os mitos analisados neste novo documento, estão as seguintes crenças: “desempenho social é menos palpável financeiramente”; “indicadores sociais são difíceis de medir”; e “pesquisas qualitativas são o melhor método para lidar com questões sociais”.
- O white paper oferece aos investidores caminhos práticos para aprimorar o uso de indicadores sociais e identificar oportunidades de investimento mais resilientes e lucrativas.
Na Refinitiv, costumamos afirmar que uma melhor integração de indicadores sociais pode ajudar a apontar oportunidades de negócios mais resilientes e lucrativas. No entanto, a relevância desses índices para a análise de investimento é frequentemente minimizada, em parte devido à percepção de que as métricas sociais são imateriais em comparação às ambientais ou às de governança.
Também existe uma crença, amplamente difundida, de que as questões sociais são estritamente de domínio dos governos, e não do setor privado e dos investidores.
Faça o download do white paper “Amplificando o “S” em ESG”
Chegou o momento de derrubar os mitos relacionados a métricas sociais
Diante dos limitados avanços em relação à integração de métricas sociais em investimentos ambientais, sociais e de governança (ESG), decidimos fazer uma parceria com a Thomson Reuters Foundation, International Sustainable Finance Center (ISFC), White & Case, Eco-Age, Mekong Club e Principles for Responsible Investment (PRI) –este último, um participante observador— para melhorar e ampliar o uso desses indicadores.
E, para marcar o início de nossa colaboração, publicamos um white paper que visa desmascarar os cinco mitos mais comuns ligados ao “S” da sigla ESG, além de oferecer dicas práticas para turbinar as métricas sociais na gestão de investimentos.
Mito 1: “O desempenho social é que tem menos materialidade financeira”
As métricas sociais de uma empresa, incluindo suas práticas de trabalho e as relacionadas à cadeia de suprimentos, são frequentemente consideradas como imateriais. Isso ocorre devido à falsa crença de que elas representam menor risco para os fluxos de receita e que são menos propensas à escrutínio regulatório (ou outras medidas punitivas).
Mas, na realidade, o baixo desempenho social pode levar a significativos danos financeiros e de reputação. Tanto a pandemia quanto o movimento Black Lives Matter destacaram a necessidade de as companhias priorizarem a saúde e a segurança dos funcionários e repensarem suas políticas de diversidade e inclusão (D&I).
Um caso que exemplifica muito bem isso é do varejista de moda online Boohoo. Em agosto de 2020, a empresa perdeu US$ 2 bilhões em valor de mercado após uma investigação secreta ter revelado que seus funcionários ganhavam menos do que o salário mínimo e que não usavam máscaras de proteção contra a Covid-19. E quem não se lembra da fundadora da grife Reformation ou do editor-chefe do site de life style Refinery29, ambos forçados a renunciar aos cargos por causa de reações públicas a políticas discriminatórias de contratação e estilos de gestão?!
Além disso, os reguladores estão acordando para essas questões. Governos em todo o mundo começam a exigir que as corporações divulguem o impacto que causam na sociedade e no meio ambiente.
Leis contra a escravidão moderna em países como Reino Unido, Austrália e EUA (Califórnia), por exemplo, já introduziram relatórios obrigatórios para que empresas a partir de determinado tamanho notifiquem quais medidas tomam para lidar com os riscos de escravidão em suas cadeias de abastecimento.
Como agir: os investidores devem identificar as questões sociais que são relevantes para o setor ou jurisdição em que estão investindo e se capacitar internamente para entender melhor as métricas sociais. Eles também devem examinar minuciosamente os relatórios de impacto social das empresas que constam de seus portfólios e garantir que elas divulguem qualquer informação que possa estar faltando.
Mito 2: “Saber como e onde começar a avaliar o desempenho social é um desafio”
Determinar o escopo do “S” em ESG pode ser desafiador, porque além de abranger uma série de questões distintas, os riscos materiais apresentados por fatores sociais variam de acordo com o país e o setor de atuação. Nos EUA, por exemplo, benefícios de saúde e diversidade e inclusão (D&I) estariam mais em alta, enquanto em muitos países em desenvolvimento, abusos de direitos humanos, transparência na cadeia de suprimentos e corrupção deveriam exigir maior atenção.
O fato é que o vínculo entre empresas e direitos humanos já está bem estabelecido. E o desafio não é a falta de ferramentas, mas o grande volume de estruturas que torna difícil para as organizações escolherem o mecanismo de relatório mais adequado para rastrear suas métricas sociais.
Como agir: nosso white paper elenca recursos que podem ajudar a melhorar sua compreensão das métricas sociais. Os “Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos das Nações Unidas” (UNGPs, na sigla em inglês ), por exemplo, são um ponto de partida ideal para aqueles investidores que ainda não têm experiência em avaliação de desempenho social.
No Anexo I do nosso relatório também está disponível um abrangente mapeamento de indicadores sociais em relação às principais estruturas de relatórios de sustentabilidade, incluindo Global Reporting Initiative (GRI), Sustainability Accounting Standards Board (SASB) e dados ESG da Refinitiv.
Assista “Refinitiv Perspectives Live: From ESG to the SDGs – How can we achieve sustainable development?”
Mito 3: “É difícil medir indicadores sociais”
A falta de padronização gerou a ideia equivocada de que não há dados suficientes sobre desempenho social que sejam confiáveis ou comparáveis e que possam serem empregados em análises de investimentos.
No entanto, a qualidade e a disponibilidade de dados sobre questões sociais melhoraram bastante na última década –embora a falta de harmonização de dados e uma relativa escassez de divulgações corporativas ainda sejam os principais desafios.
Como agir: revisar os indicadores fornecidos pela GRI e SASB pode ser um boa forma de começar a integrar métricas sociais, mas os investidores devem se aprofundar para identificar os índices mais úteis para seu setor e jurisdição.
O white paper lista uma série de fontes de dados relevantes sobre questões como gênero e diversidade racial ou transparência da cadeia de suprimentos, mas é importante monitorar o ambiente à medida que vão surgindo novos recursos para tal. Os investidores também devem usar uma combinação de diferentes fontes de dados, pois os fornecedores de dados geralmente diferem em escopo e foco.
Além disso, a tecnologia desempenha um papel igualmente vital para a melhoria das métricas sociais. Imagens de satélite podem ajudar a detectar com mais facilidade o trabalho ilegal em canteiros de obras, minas ou florestas, enquanto o blockchain pode aumentar a transparência da cadeia de suprimentos por meio de processos de autenticação mais sofisticados.
Já os modelos de processamento de linguagem natural (PNL) estão sendo treinados em análise de notícias ou de sentimentos de mídia social para entender melhor a percepção do mercado ou detectar controvérsias na esfera ESG. Nossa recém lançada ferramenta, a Refinitiv MarketPsych ESG Analytics, oferece insights ESG quantitativos com base em notícias em tempo real e monitoramento de mídia social.
Mito 4: “Pesquisas qualitativas são o melhor método para lidar com questões sociais”
Os investidores normalmente contam com questionários qualitativos para avaliar o desempenho social de uma empresa, mas essas pesquisas básicas tendem a se concentrar apenas nas políticas corporativas, e não em seu impacto social.
Em contraste, informações baseadas em dados –como os indicadores sociais listados no Anexo I— podem ajudar os investidores a avaliar o impacto das medidas sociais de uma companhia e identificar potenciais “sinais de alerta”. Comparar pontos de dados ao longo do tempo também auxilia no monitoramento do progresso em direção às metas sociais.
Como agir: os investidores devem combinar análises quantitativas e qualitativas para uma due diligence mais robusta; consultar ONGs e outros especialistas da área para compreender melhor questões que podem vir a levantar “bandeiras vermelhas”; e envolver as empresas no processo com antecedência, para que lidem com esses riscos.
A utilização de benchmarks e índices relevantes –como World Benchmarking Alliance’s Gender, Corporate Human Rights Benchmark, KnowTheChain e Ranking Digital Rights— também está se tornando uma prática comum para a avaliação das companhias.
Mito 5: “A integração de métricas sociais só é relevante para investidores de impacto”
Os principais investidores muitas vezes acreditam que, ao melhorar suas métricas sociais, irão se desviar da mentalidade de obter “retornos em primeiro lugar”. E isso ocorre mesmo sem nenhuma evidência de que a integração de métricas sociais (ou de ESG em geral) faça com que os resultados venham a ser piores.
Na verdade, a análise de desempenho dos fundos ESG na última década mostra que, durante tempos de crise –como a crise financeira de 2008 ou a pandemia de Covid-19—, eles são mais resilientes do que os tradicionais.
Além disso, um estudo sobre D&I da Refinitiv revelou que os portfólios que levaram a diversidade de funcionários e conselhos em consideração também superaram seus pares.
Como agir: compreender melhor as questões materiais relacionadas ao ESG pode ajudar os investidores a identificar oportunidades com baixo preço, mas lucrativas a longo prazo. Integrar ESG em suas práticas de investimento e negócios também serve para atrair e reter os melhores talentos.
Além disso, os investidores também deveriam pensar em se filiar a entidades do setor que buscam lidar com importantes questões sociais, como a Investor Alliance for Human Rights, ou a Human Capital Management Coalition, que se concentra na promoção da saúde e segurança do trabalhador, salários dignos e D&I.