Um novo white paper da Refinitiv, elaborado em parceria com a Probability & Partners, aponta que a combinação entre estratégias de investimento multifatoriais e considerações de sustentabilidade não piora o desempenho das carteiras.
- Estratégias de investimento sustentáveis e multifatoriais estão ganhando espaço na gestão de ativos.
- Um novo estudo da Refinitiv considera três maneiras pelas quais as métricas ESG podem ser incorporadas em estratégias multifatoriais.
- Seja como cobertura de risco ou para rotação de setor, a sustentabilidade oferece ótimos retornos anuais.
Os investimentos sustentáveis têm se proliferado rapidamente, impulsionados tanto pela geração do milênio quanto pela atual onda regulatória, que exige transparência e divulgação dessas atividades –especialmente das que estão relacionadas a questões ambientais, sociais e de governança (ESG).
Paralelamente a isso, o chamado “investimento em fatores” (factor investing) –método em que a alocação de uma carteira é selecionada com base em fatores que podem afetar o desempenho dos ativos escolhidos— mantém a tração, com as abordagens multifatoriais apresentando forte desempenho.
Mas, mesmo com as estratégias de investimento sustentável e multifatorial ganhando impulso entre os gestores de ativos, o novo white paper publicado pela Refinitiv e Probability & Partners se preocupa em explorar o efeito da combinação desses dois modelos sobre o desempenho dos portfólios. Para isso, são abordadas especificamente duas questões:
- A sustentabilidade pode ser tratada como um fator de investimento?
- Se for utilizada para uma sobreposição de triagem e critério de ponderação na rotação do setor, qual seria o impacto da sustentabilidade no desempenho financeiro de carteiras multifatoriais?
Metodologia da análise
Para o white paper, pesquisamos dados que incluíram os retornos das ações históricas S&P 500 e STOXX 600 entre julho de 2007 e dezembro de 2020. Já as métricas de sustentabilidade foram fornecidas pela combinação de pontuações ambientais, sociais e de governança (ESGC) da Refinitiv para as mesmas empresas e período histórico.
A taxa livre de risco para as ações do S&P 500 foi o título do Tesouro de três meses, e para as ações da STOXX 600, o rendimento do euro de três meses.
O modelo de fator englobou fatores de mercado, tamanho, crescimento, momentum e volatilidade, com carteiras de fatores construídas segundo a abordagem de Fama & French.
Além desses quesitos, a pesquisa considerou três maneiras pelas quais as métricas ESG podem ser incorporadas em estratégias multifatoriais.
Quais foram os resultados?
Portfólio baseado em fatores
Ao analisarmos a adição de um fator específico baseado em pontuações ESG a uma estratégia multifatorial, obtivemos a resposta para a primeira pergunta do white paper.
Resumo das estatísticas: julho de 2007 a dezembro de 2020
A tabela acima mostra os retornos semanais das carteiras baseadas em fatores.
O retorno semanal médio do fator de volatilidade (SMV) e do fator de sustentabilidade (ESG) é negativo tanto para o S&P 500 quanto para o STOXX 600.
Isso sugere que ações mais estáveis apresentam desempenho inferior às ações voláteis, e ações sustentáveis, desempenho inferior às ações menos sustentáveis.
Os fatores de tamanho (SMB) e momentum (WAL) mostram retornos positivos, refletindo o interesse em investimento em fatores.
Resultados agregados de estimativa de modelo de fator
Julho de 2019 a dezembro de 2020
Os “t-values” são calculados pela estimativa de covariância HAC se autocorrelação ou heterocedasticidade for detectada

A tabela que vemos acima apresenta resultados agregados para modelos de investimento “com e sem fator de sustentabilidade”, indicando que o fator não é significativo no universo do S&P 500 nem do STOXX 600.
Esses resultados mostram que a sustentabilidade como fator não contribui para o desempenho de um modelo tradicional multifatorial.
Isso é sublinhado na tabela abaixo, onde podemos obervar que o desempenho das carteiras com base em um modelo de cinco fatores é semelhante ao de carteiras baseadas em cinco fatores com a adição de um fator de sustentabilidade.
Resultados de investimento com base em “modelo de fator com e sem fator de sustentabilidade”
Anualizado (2010 a 2020)

Usando pontuações ESG para sobreposição de risco e rotação de setor
Para responder à segunda pergunta feita no white paper, a nossa pesquisa considera os efeitos de vários níveis de triagem e de rotação de setor em portfólios do S&P 500 e STOXX 600.
Conclusão sobre investimento sustentável
O objetivo das estratégias de investimento sustentável é transformar a sustentabilidade em elemento crucial para os processos de decisão, melhorando o perfil de sustentabilidade das carteiras sem sacrificar lucros.
E o white paper elaborado pela Refinitiv e Probability & Partners demonstra que, até certo ponto, isso pode ser alcançado.
Ou seja, a sustentabilidade não deve ser considerada um fator de investimento em estratégias multifatoriais, pois não faz uma diferença significativa no desempenho da carteira. Ela pode, no entanto, ser usada para sobreposição de triagem de ações (stocks) e/ ou para a rotação de setor em estratégias multifatoriais.
Ocasionalmente, isso produz métricas de desempenho ligeiramente inferiores –se comparadas às de estratégias multifatoriais sem triagem de risco.
Mesmo assim, vale a pena, já que os portfólios resultantes superaram significativamente o benchmark e, empregando a triagem ESG mais agressiva e a rotação do setor, o S&P 500 entregou um retorno anual de 18,5%, e o STOXX 600, de 15,3%.
Um processo de investimento sustentável deve, portanto, ter como objetivo o equilíbrio entre a melhoria das métricas de sustentabilidade de uma carteira e o impacto que isso terá sobre o risco e o retorno.