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Mercado de café dá forte sinais de reaquecimento após a pandemia

Geordie Wilkes
Geordie Wilkes
Head of Research, Sucden Financial Limited

À medida que a atividade econômica mundial inicia uma retomada, melhoram as perspectivas para o mercado de café –tendência reforçada pelo desempenho da commodity já no primeiro trimestre deste ano.


  1. A demanda do consumidor pelo bom e velho cafezinho já está aumentando nos principais aeroportos e centros de compras, indicando uma melhora geral do desempenho do setor cafeeiro.
  2. Mas o aumento do desemprego entre os mais jovens, uma das consequencias da Covid-19, ainda pode prejudicar as vendas da bebida.
  3. As estimativas de queda na safra brasileira de café, no entanto, podem impactar a oferta e, conseqüentemente, o preço da commodity nos próximos dois ou três anos.

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O mercado de café vem apresentando um bom desempenho neste ano, com alta de 40% no acumulado até o momento, oscilação provocada tanto pelo período de entressafra quanto pelo crescimento da demanda.

Durante o auge da pandemia de Covid-19, embora não tenhamos detectado perda de consumo, também não vimos crescimento de demanda, já que o mercado se destinava prioritariamente ao âmbito doméstico. Essa percepção foi confirmada por relatórios de rendimentos da Nestlé, Starbucks e JDE.

Leia o relatório completo: “Hot and Cold – Coffee Market Outlook”

Início da recuperação do mercado

Com o fim das restrições impostas pela crise sanitária, o hábito de degustar uma xícara de café fora de casa começa a ser retomado, e alguns locais que são representivos desse comportamento ao redor do mundo, como aeroportos, shopping centers e regiões com grande concentração de escritórios, como a City of London, se beneficiam ainda mais.

O “Pret Index”, criado pela Bloomberg, mede as transações na “Pret A Manger Ltd” nos aeroportos de Londres e Nova York, bem como nas principais lojas de Londres, Hong Kong e Nova York. Esse índice registrou um aumento de 20% nas vendas dessas lojas na semana de 29 de julho.

Ele funciona em uma escala de 0 a 1 (sendo que 1 era o nível de vendas no pré-pandemia) e cada ponto (0,01) representa 1%.

Para se ter uma ideia, os aeroportos de Londres atingiram 0,62 na semana de 19 de julho, em meio a um maior movimento de turistas embarcando para as férias de verão. Já as estações de trem e metrô da cidade chegaram a 0,72, um aumento de 0,03 na semana, o que sugere um maior deslocamento diário de pessoas e de viagens internas.

Essa tendência é confirmada pelas vendas no West End londrino, onde o índice subiu para 0,77. Enquanto isso, o consumo nos subúrbios da capital inglesa ficou em 1,02 na semana de 29 de julho, em linha com as expectativas de que, com os lockdowns, a concentração populacional fosse deslocada dos distritos comerciais centrais para as áreas residenciais.

Desemprego global versus demanda

Um fator adverso para a demanda de café pode ser a elevação dos níveis de desemprego na faixa etária da geração do milênio.

A taxa de ocupação para jovens de 15 a 24 anos no segundo trimestre de 2021 no Reino Unido, EUA e União Europeia ficou em 50,3%, 49,8% e 30,8%, respectivamente. Para os países da OCDE, esse índice é ainda pior: cai para uma média de 39,9%.

No entanto, como o consumo da bebida tem pouca variação em função do preço, à medida que as cotações aumentam, prevemos uma redução bem limitada nas vendas.

Vemos, por exemplo, que as exportações brasileiras do produto têm se mantido elevadas nos últimos meses, indicando que a demanda continua forte. Acredita-se que a queda geral das exportações esteja muito mais relacionada ao final da safra, deficiências da indústria naval e aos altos preços dos fretes.

O rali de preços que testemunhamos recentemente foi atribuído a uma seca e duas geadas, que reduziram as estimativas de rendimento para a safra 22/23. Isso nos remete ao que ocorreu em 1975, quando houve uma geada no Brasil que fez com que o contrato de NY subisse para 333,60 cts/lb em 1977 (esse efeito atrasado pode ser explicado pela limitação dos canais de comunicação e da disponibilidade de dados da época). Já em 1994, quando tivemos uma forte seca, o contrato de NY marcou 25,000 cts/lb.

Nível dos estoques

Os estoques estão sendo sustentados pelo café semi-lavado exportado pelo Brasil, maior produtor da commodity, além do café hondurenho, destinado majoritariamente à Europa (mais especificamente, Antuérpia).

Na verdade, 1,1445 milhão de sacas certificadas pela ICE são do Brasil. Em nossa opinião, esse café deverá ser consumido juntamente com o café de Honduras, que têm estoques de 846.891 sacas, de um total de 2.154 milhões de sacas, até 20 de agosto.

Não nos parece que os estoques serão repostos por um período de dois ou três anos devido à estimativa de redução da safra brasileira, e o produto da América Central pode não ser suficiente para preencher essa lacuna.

Segundo relatórios de trading, os produtores têm atualmente 193.666 contratos de venda à descoberto (short). Eles chegaram a reduzir a posição em pouco mais de 20.000, depois de atingir um valor recorde de 218.000 contratos a descoberto no início de agosto.

Esse alto índice de contratos à descoberto, ou posição vendida (short), se deu à medida que os produtores vendiam a termo para travar uma cotação favorável. No entanto, como o mercado passou por um rali e as bolsas de commodities aumentaram os requisitos de margem, essa prática começou a dar mostras de fragilidade, e atualmente se comenta que há muito café negociado que ainda nem foi plantado. No momento, os fundos possuem 30.495 contratos em posição comprada e têm muita capacidade para aumentar esse volume.

Leia o relatório completo: “Hot and Cold – Coffee Market Outlook”