A área de finanças sustentáveis cresceu de forma exponencial nos últimos anos, mas infelizmente isso ainda não basta para amparar de forma definitiva a transição energética global. Ou seja, além de intensificar as fontes de financiamento já existentes, novas ideias devem ser colocadas em prática por uma gama crescente de países e empresas se quisermos alcançar as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris.
- Nos últimos anos, o financiamento da economia verde cresceu de forma significativa tanto nos Equity Capital Markets (ECM) quanto nos Debt Capital Markets (DCM). Mesmo assim, é necessária uma maior aceleração dessa tendência em ambos mercados para garantir que o aquecimento global limite-se a 1,5° acima dos níveis pré-industriais até 2050.
- Novos tomadores de empréstimos e fontes de financiamento estão aparecendo nos mercados de crédito e títulos, enquanto a exposição à economia verde nos mercados de ações deve acelerar rapidamente até 2030
- No entanto, não basta que os mercados financeiros forneçam apenas a execução de formas já conhecidas de financiamento; também é preciso inovar.
As empresas que compõem o segmento da economia classificado como verde já respondem por 7% dos mercados globais de ações (mais do que o setor de petróleo e gás), com uma capitalização de mercado de US$ 7 trilhões. Além disso, o tamanho do mercado de títulos verdes aumentou cem vezes em menos de dez anos, alcançando cerca de US$ 3 trilhões em 2022.
Apesar desses números, bastante animadores, estudos recentes de alto nível os compararam ao patamar de US$ 109 a US$ 275 trilhões de investimento cumulativo necessário para desenvolver energia renovável, transporte de baixo carbono, edifícios energeticamente eficientes, eletrificação de processos industriais, reciclagem e muito mais.
Em um webinar do London Stock Exchange Group (LSEG), realizado em 17 de novembro de 2022, os especialistas identificaram novas maneiras de preencher a lacuna financeira do crescimento sustentável.
Intitulado “Where is the Finance Coming from for Sustainable Growth?”, o webinar foi parte da programação da última semana da 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 27, no Egito.
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Como eliminar as lacunas do crescimento sustentável
Aqui estão as quatro principais maneiras de preencher as lacunas existentes no caminho para o crescimento sustentável que foram discutidas durante o webinar:
- Embora, há algum tempo, os títulos verdes já sejam um dos grandes impulsionadores do financiamento sustentável, agora os mercados em desenvolvimento também começam a aderir, o que é uma excelente notícia. Em 2022, países como Chile e Uruguai emitiram Títulos Vinculados à Sustentabilidade (SLBs) como parte de suas contribuições determinadas nacionalmente ou das metas de redução de emissões. Enquanto isso, no Oriente Médio, o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita tornou-se o primeiro fundo soberano a emitir um título verde.
- Também nos mercados de títulos, a emissão de sukuk verde está se expandindo à medida que os investimentos islâmicos de países ricos em petróleo se voltam para as finanças sustentáveis. O mercado de sukuk (títulos islâmicos, que seguem a Sharia) deverá somar de US$ 30 bilhões a US$ 50 bilhões nos próximos anos, de acordo com Mustafa Adil, Head of Islamic Finance, Data and Analytics do LSEG. “De fato, em uma pesquisa recente do LSEG, 54% dos investidores islâmicos disseram que haviam incorporado fatores ESG em seus portfólios para ajudar a cumprir com sua agenda climática”, disse Mustafa. “Alguns mercados fronteiriços também estão emitindo sukuks para aproveitar o excesso de liquidez nos mercados produtores de petróleo do Gulf Cooperation Council (GCC) que possuem investidores sensíveis às normas da Sharia”, acrescentou.
- Com o fim da era das taxas de juros baixas e do financiamento barato, os empréstimos sustentáveis estão aumentando sua participação no mercado de crédito. “Acho que veremos uma crescente migração para o mercado de dívida, embora o mercado de títulos continue sendo importante”, explica Matthew Toole, Head of Debt Markets and Product Origination do LSEG. “O cenário de crédito e a capacidade dos bancos de continuar mobilizando os compromissos que assumiram para empréstimos e subscrições certamente terão um grande impacto à medida que avançamos para 2023.”
- Já nos ECM, a exposição à economia verde em benchmarks de ações terá que crescer mais do que três vezes entre 2020 e 2030, de acordo com um estudo da FTSE Russell, “Green Equity Exposure in a 1.5°C Scenario”, que traduz estimativas recentes para o nível geral de investimento necessário para atingirmos as metas de Paris em exposições ao mercado de ações. Segundo o mesmo estudo, de 2030 a 2050, a exposição à economia verde cresceria de forma mais gradual.
Investimentos necessários em novas áreas
Mas o dinheiro, por si só, não é suficiente, como faz questão de frisar Nigel Topping, que detém o título de “UK’s High-Level Climate Action Champion” e que participou no início de 2022 da série Net Zero Conversations.
“O financiamento privado precisa ser parceiro da inovação, não apenas um parceiro de execução. Isso porque parte do investimento precisa ser realizado em áreas relativamente novas, como “adaptação”, que tem um tipo diferente de perfil de fluxo de caixa, e em mercados emergentes, que antes não eram grandes destinos de investimento”, explicou ele.
Olhando para o futuro, vemos que a mudança climática só poderá ser mitigada se os investidores e credores aumentarem o financiamento da economia verde, especialmente nos próximos anos, até 2030.
A boa notícia é que o ímpeto é cada vez maior. Mas, se isso acontecerá ou não com rapidez suficiente, dependerá (em parte) de encontrar maneiras criativas de financiar uma economia sustentável.
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