Em um novo capítulo de Corona Correction, série especial da Refinitiv sobre as perspectivas para a crise econômica global, Luiz Braga, nosso diretor de vendas para a América Latina, explica como os investidores estão se adaptando à volatilidade nos mercados brasileiros.
Como ocorreu em outros mercados globais, os preços dos ativos no Brasil passaram por um período bastante turbulento durante a fase inicial da pandemia. Quem não se lembra do fatídico mês de março, quando a B3 precisou acionar uma série de “circuit breakers” e o Ibovespa chegou a despencar cerca de 30%, encerrando o mês com o pior desempenho em mais de 20 anos?
Como se não bastassem um mercado de ações em queda acentuada e uma alta inédita na cotação do dólar –que em maio chegou a encostar em 6 reais, 45% de valorização no ano—, as incertezas políticas também se agravaram devido à forma como o governo lidou com a pandemia. Diante desse cenário de instabilidade, como os investidores conseguiram se adaptar?
Esse foi o tema do 37º capítulo de “Corona Correction”, série da Refinitiv sobre os efeitos da Covid-19 nos mercados globais apresentada por Roger Hirst, co-head of content do Real Vision Group. A seguir, as principais considerações de Luiz Braga, nosso diretor de vendas para a América Latina e o convidado especial deste episódio.
O novo normal do setor financeiro
“O Brasil está passando por um cenário diferente no que diz respeito a investimentos. Estamos abrindo oportunidades para melhorar, aprender e desenvolver novas formas de investir. Sem diversificar o portfólio, mitigar riscos e encontrar bons retornos esse momento torna-se mesmo muito desafiador –essa é a grande discussão. Com uma série de cortes nas taxas de juros impactando os investimentos em renda fixa, e esse cenário pandêmico afetando muito o desempenho da bolsa de valores, os altos níveis que vimos em janeiro (em torno de 119.000 pontos) foram reduzidos em quase 47%. Além da Covid-19, as disputas entre EUA e China também contribuíram para isso.”
Novas classes de ativos em foco
“Diante do enorme estresse e das incertezas no mercado, além da falta de apetite por volatilidade, os investidores foram forçados a mudar suas estratégias de investimento para outras classes de ativos. Em um país que sempre foi acostumado a ter altas taxas fixas, a necessidade de descobrir outras maneiras de gerar alfa não era algo tão presente no dia-a-dia. Mas, agora, começou a ser obrigatório. Olhando mais de perto os mercados de fundos no Brasil, vemos que a renda fixa está enfrentando um momento desafiador, com retornos negativos e desempenho abaixo do CDI. O fluxo de fundos para renda fixa sofreu uma redução de quase 18 bilhões de dólares este ano, enquanto ações, fundos de hedge, câmbio, planos de poupança e até ETFs tiveram desempenho e fluxos positivos, que juntos representam cerca de 15 bilhões de dólares.”
A chegada da nova geração
“Atualmente, gestores de ativos e especialistas em investimentos estão desenvolvendo novos produtos e promovendo educação financeira como uma peça importante nesse cenário de pandemia, já que é uma forma de trazer confiança de volta aos investidores. Nessa busca por novas maneiras de investir, começamos a ver o mercado de ações, por exemplo, recuperando suas perdas. Um relatório recente da B3 mostrou que a bolsa atingiu em abril a marca de dois milhões de investidores. E, uma tendência muito interessante é que esses novos participantes são, em média, mais jovens e investem valores menores, mas diversificam, por meio de ações, imóveis e ETFs. Apesar de toda a crise, que levou a uma série de circuit breakers durante o mês de março, a B3 já vem recuperando seus ganhos, voltando a quase 100.000 pontos”.