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A China está estimulando um novo superciclo das commodities?

Fabrice Tayot
Fabrice Tayot
Commodity Proposition Director for Emerging Markets, Refinitiv

Neste novo post, Fabrice Tayot, Commodity Proposition Director for Emerging Markets na Refinitiv, explica por que vê a China na vanguarda do novo boom das commodities –e o que isso deverá significar para os mercados globais dedicados a esses ativos.


  1. O superciclo das commodities visto na década de 2000 foi impulsionado pelo crescimento da população, industrialização e urbanização de países como China e Índia.
  2. À medida que a China se recupera do impacto da Covid-19, os fluxos de commodities sugerem que o país já pode estar provocando um novo boom dessa classe de ativos.
  3. Entre os fatores que contribuem para um superciclo das commodities estão: previsão de forte crescimento do PIB da nação asiática; estímulo fiscal consistente por parte do governo chinês; e o nível relativamente alto das taxas de juros mantidas pelo Banco Popular da China.

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Em 2020, com lockdowns que inibiram fortemente a demanda, interrupções na cadeia de suprimentos e aumento da volatilidade dos preços, a Covid-19 teve um impacto sem precedentes sobre os mercados de commodities.

Mas agora, no início de 2021, é o momento perfeito para tentarmos entender os efeitos de longo prazo da pandemia, além de decifrar as principais tendências de mercado que ganharão força nos próximos meses.

Embora possa demorar anos até compreendermos por completo as consequências da Covid-19, já é possível discernir alguns movimentos que devem se tornar parte do “novo normal” no mercado de commodities.

Trading de commodities: a Refinitiv fornece ferramentas, fundamentos, previsões, dados alternativos e notícias atualizadas que podem ajudá-lo a se diferenciar nesse mercado

O papel da China em novo boom das commodities

Antes de mais nada, gostaria de explicar por que acredito que a China será a força motriz de um superciclo 2.0 das commodities. Mas devemos primeiro estabelecer o que se entende pelo termo “superciclo de commodities”.

O termo foi popularizado pelo investidor americano Jim Rogers na virada do século passado em seu livro Hot Commodities. Rogers argumentou que, nos anos 2000, o mundo havia entrado em um novo superciclo de commodities de 15 anos e, conseqüentemente, esses ativos teriam cotações muito mais altas.

E, de fato, os anos 2000 foram espetaculares para os preços das commodities, com todo o setor (agricultura, energia, metais) experimentando um forte aumento da demanda devido ao crescimento da população, industrialização e urbanização em mercados emergentes, em particular China e Índia.

No entanto, como disse Isaac Newton: “O que sobe deve descer.” E realmente, desde 2014, o boom das commodities foi substituído por um longo período de marasmo para seus preços. Alguns bancos de investimento chegaram até a argumentar que a demanda global por commodities já teria atingido seu pico e que os superciclos seriam coisa do passado.

Mas claro que alguns discordam dessa ideia, e acreditam que o mundo está prestes a testemunhar um novo aquecimento desse setor, que (mais uma vez) será impulsionado pela China.

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Perspectivas para o consumo chinês de commodities em 2021

E por que a China? O gigante asiático emergiu como o principal consumidor de uma ampla gama de commodities desde os anos 2000, e qualquer aumento de sua demanda doméstica pode levar os mercados a novas máximas.

Importação chinesa de petróleo bruto (mbbl)

Legenda: As importações chinesas de petróleo bruto aumentaram 9,5% em 2020 em comparação com 2019. Fonte: Eikon

Importação chinesa de petróleo bruto (mbbl)

Legenda: Em 2020, as importações chinesas de petróleo bruto ficaram bem acima da média de cinco anos. Fonte: Eikon

Se observarmos cuidadosamente os fluxos de commodities em 2020, não chega a ser surpresa para ninguém que tenham sido as fortes importações chinesas dessas mercadorias as grandes responsáveis pela recuperação dos mercados.

Além de a China ter sido a primeira grande economia a mostrar sinais de recuperação na esteira da Covid-19, os estímulos injetados pelo governo e um cenário de preços baixos aumentaram a demanda por commodities industriais. Consequentemente, isso fez com que as cotações de várias commodities alcançassem altas recordes nas últimas semanas, e devem subir ainda mais em linha com a demanda chinesa.

Benchmark do preço do minério de ferro na Dalian Commodity Exchange (continuação do mês anterior)

Legenda: O benchmark do preço do minério de ferro subiu 53% em 2020. Fonte: Eikon

Apesar dos lockdowns prolongados e de outras restrições ao funcionamento da economia em todo o país, a superpotência asiática apresentou uma recuperação impressionante do PIB em 2020: +2,3% enquanto a taxa média global foi de -3,5%.

E como vários analistas econômicos, incluindo o Banco Mundial, já previram um forte crescimento do PIB ao longo deste ano (com um consenso em torno de 8% a 9%), espero um grande aumento da demanda doméstica por commodities como metais estratégicos, GNL e produtos agrícolas e refinados.

Previsão do FMI para o crescimento do PIB da China

Legenda: Espera-se que em 2022 a taxa de crescimento do PIB chinês seja de 160 pontos base maior do que o do PIB global, e de 310 pontos base maior do que o do PIB dos EUA. Fonte: Eikon

Alguns de vocês podem dizer que o estímulo monetário e fiscal da China será mais tímido em 2021, o que teria o potencial de achatar os preços das commodities.

Acredito, contudo, que os formuladores da política econômica do país manterão as linhas atuais –conforme expresso durante a Conferência Central de Trabalho Econômico em dezembro de 2020— e que em 2021 o mercado deve esperar um forte apoio político para a economia a fim de marcar o 100º aniversário do Partido Comunista Chinês.

Taxas de juros: China versus EUA

Legenda: A política de taxa de juros do PBOC permanece a mesma enquanto a Taxa-alvo de Fundos do Fed diminui. Fonte: Eikon

Além da política de estímulo, outro fator a se considerar é a provável manutenção de taxas de juros mais altas (em relação ao Ocidente) pelo Banco Popular da China, o que poderia contribuir para uma valorização do renminbi em relação ao dólar americano.

E, diante de fortes fundamentos econômicos e da força contínua da moeda em 2021, as importações totais de commodities pela China devem permanecer aquecidas, puxando os preços para um novo superciclo.

Ampla recuperação do mercado global de commodities?

Obviamente, a China não será o único país a apresentar forte recuperação econômica.

O mercado já está precificando um amanhã mais luminoso, impulsionado pela distribuição bem-sucedida de vacinas, pacotes de estímulo adicionais nos EUA, uma quantidade crescente de hot money e, por fim, uma recuperação global que levará a uma maior demanda por commodities.

Porém, devido ao seu tamanho, a China estará, sim, liderando a recuperação do setor de commodities –e há indicadores de sobra apontando para o ímpeto que o superciclo das commodities está tomando.

Claro que alguns de vocês podem estar convencidos de que a “transição verde” colocará um teto nos preços desses ativos, especialmente naqueles do grupo de energia. Mas isso levanta outra questão: como será a “transição verde” nos países emergentes?

Ficarei feliz em discutir mais esse tema com vocês, neste blog, em algumas semanas. Até lá!

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