Ir para conteúdo

A inflação determinará as eleições de meio de mandato nos EUA?

Kevin Loane
Kevin Loane
Economista, Fathom Consulting

Com os mais altos índices inflacionários em várias décadas, um novo relatório da Fathom Consulting, empresa parceira da Refinitiv, avalia as causas do problema e coloca na mesa uma pergunta fundamental: que impacto isso terá nas midterms dos EUA?


  1. Na esteira da pandemia, um movimento de oferta menor do que o de demanda fez com que a inflação global surpreendesse a todos, subindo de forma constante e significativa ao longo dos últimos meses.
  2. Pesquisas demonstram que uma inflação mais alta tem um impacto tão negativo no sentimento das famílias quanto o aumento na taxa de desemprego, o que entendemos como uma reformulação do chamado “Índice de Miséria” proposto pelo economista norte-americano Arthur Okun (1928-1980).
  3. Nos Estados Unidos, o descontrole da inflação provavelmente prejudicará a chance do Partido Democrata nas próximas eleições legislativas (também conhecidas como eleições de meio de mandato ou simplesmente midterms). Outros fatores não econômicos, como a intensificação do bipartidarismo e um viés histórico contra os políticos em exercício, também tendem a reduzir as chances de o partido de Joe Biden manter o controle de ambas as Casas do Congresso.

Para obtener más información basada en datos directamente en su correo electrónico, suscríbase al boletín semanal Refinitiv Perspectives

O que está, afinal, acontecendo com a inflação global?

Dados da Refinitiv têm ajudado a rastrear as causas e os sintomas da atual crise inflacionária no mundo. Suas origens remontam às primeiras semanas da pandemia, quando o apoio fiscal de determinados países, como os EUA, passou a garantir que a renda das famílias crescesse apesar da mais profunda recessão econômica global já registrada na história.

Isso porque essa renda adicional foi usada principalmente para financiar um aumento no consumo das famílias e, ao mesmo tempo, uma mudança em sua composição, já que houve um desvio significativo do consumo de serviços para o de bens e mercadorias.

Ou seja, as causas da explosão inicial da inflação são fáceis de entender: na economia global, e particularmente na dos EUA, o lado da oferta tem tido dificuldade para acompanhar o aumento da demanda, sobretudo nessa nova composição, voltada a produtos em detrimento de serviços.

Leia o relatório elaborado a partir da pesquisa da Fathom: : “Exploring the Political Consequences of Higher Inflation Through the Lense of Polling Surprises”

A disparada da inflação não é um fenômeno exclusivo dos Estados Unido/s. Veja, por exemplo, o heatmap (mapa de calor) abaixo. Ele mostra os índices inflacionários de doze meses em 134 países, dados que estão prontamente disponíveis na lista de indicadores-chave do Datastream. Esses índices receberam pontuação z (ou seja, foram ajustados para levar em conta a taxa de inflação usual de cada país e sua volatilidade típica).

Os glóbulos vermelhos refletem resultados que são dois desvios padrão acima do normal. Estatisticamente, isso representa um evento incrivelmente raro, mas, como podemos observar, a maioria dos países está agora nesta posição.

O que as famílias pensam sobre a inflação?

O termo “ilusão do dinheiro” (originalmente, “money illusion”) foi cunhado por Irving Fisher (1867-1947), um dos grandes economistas americanos da primeira metade do século XX. Mas até hoje, teóricos da área o usam para descrever o fenômeno psicológico que faz com que as pessoas não apreciem inflação mesmo que os aumentos salariais recebidos compensem por completo seu impacto.

Essa visão leva a maioria dos indivíduos a reduzir gastos e a ampliar preventivamente suas poupanças sempre que as taxas de inflação sobem. Isso fica claro em pesquisas sobre sentimento do consumidor, tanto que a confiança do consumidor nos EUA, no Reino Unido e na Zona do Euro despencou para níveis que quase sempre sinalizam a iminência de uma recessão.

A Fathom Consulting, empresa parceira da Refinitiv e especializada em pesquisas macroeconômicas, geopolíticas e de mercado financeiro, resolveu testar essa teoria empiricamente para obter mais evidências sobre a relação entre inflação e confiança das famílias, encontrando evidências de que:

  • As famílias reagem negativamente à desvalorização dos ativos (de ações a preços das casas).
  • As famílias sempre respondem negativamente à subida da inflação.
  • As famílias, obviamente, respondem de forma negativa à alta do desemprego.
  • Surpreendentemente, as famílias são quase tão sensíveis à inflação quanto ao desemprego.

Esta última descoberta é, de fato, intrigante, pois dá suporte empírico ao chamado “Índice de Miséria”, que reúne inflação e taxa de desemprego. Essa regra, empírica, foi desenvolvida por Arthur Okun –economista norte-americano que atuou como consultor do presidente Lyndon B. Johnson— como um indicador de “desconforto econômico”. No gráfico abaixo, comparamos o “Índice de Miséria” com o índice de Confiança do Consumidor.

Que efeito isso terá nas midterms dos EUA?

Os americanos comparecerão às urnas ainda este ano para as eleições de meio de mandato. Diante desse panorama, vale a pena lembrar um estudo empírico de 2009 de Leo H. Kahane, diretor do departamento de Economia de Providence College (EUA), em que ele buscou quantificar o impacto de variáveis macroeconômicas nos resultados das eleições nos Estados Unidos.

A combinação das descobertas do estudo de Kahane com dados mais recentes leva à conclusão de que as variáveis econômicas ainda devem contribuir positivamente para os índices de aprovação do presidente Joe Biden –graças, sobretudo, à força da recuperação do PIB nos EUA após a pandemia.

No entanto, outros fatores ainda estão em jogo.

Primeiro, o bipartidarismo está dominando cada vez mais a política dos EUA, o que implica em menos eleitores indecisos agora do que no passado (e são precisamente os indecisos que costumam se mostrar mais propensos a votar de acordo com questões econômicas.

Em segundo lugar, normalmente há uma grande oscilação contra o presidente em exercício nas eleições de meio de mandato. Registros de votação do Congresso mostram que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o partido do incumbente perdeu, em média, 27 cadeiras na Câmara e três no Senado nas midterms.

Em face à pequena maioria dos Democratas em ambas as Casas Legislativas, há uma grande chance de que eles percam o controle de uma ou mesmo de ambas as casas.

Quer saber mais?

Este artigo destaca algumas das principais descobertas de um relatório recente da Fathom Consulting. Por favor, siga o link abaixo para ler o relatório completo e obter mais informações sobre a crise inflacionária nos EUA e no mundo, incluindo: os erros de previsão dos economistas; as implicações para a política monetária; e uma discussão mais aprofundada das consequências políticas da inflação.

Leia o relatório elaborado a partir da pesquisa da Fathom: : “Exploring the Political Consequences of Higher Inflation Through the Lense of Polling Surprises”