Depois de um período extremamente aquecido, a atividade global no setor de fusões e aquisições caiu de forma significativa em 2022, fazendo com que o valor total acumulado até o momento seja um terço menor do que o do mesmo período no ano passado.
- Durante o terceiro trimestre de 2022, o valor total movimentado nas operações globais de M&A despencou 55% em relação ao ano anterior, a maior queda desde a crise financeira global em 2009.
- A atividade no setor de fusões e aquisições transfronteiriças é dominada pela América do Norte (responsável por 40% das transações internacionais) e pelo Reino Unido (que responde por 10% da atividade global).
- Agora em setembro, os bancos obtiveram o menor índice de taxas bancárias derivadas das operações de M&A desde 2013, pouco mais da metade do valor apurado em março e junho deste ano.
Após um ciclo de dois anos em que o segmento de M&A fervilhou com números inéditos, os tempos de bonança parecem finalmente terem chegado ao fim: o valor agregado das aquisições em meados de 2022 chegaram a cair abaixo de US$ 1 trilhão pela primeira vez em oito trimestres consecutivos.
Além disso, apenas US$ 692 bilhões em negócios relativos a fusões e aquisições (de 11.738 transações) foram anunciados em todo o mundo no terceiro trimestre, a contagem mais baixa desde o segundo trimestre de 2020 e uma queda de 55% em relação ao mesmo período do ano passado.
Ou seja, este é o maior declínio do setor (na comparação ano a ano) desde o ápice da crise financeira global em 2009.
No fechamento do terceiro trimestre deste ano, constatou-se uma queda de 17% no número total de transações de M&A, com uma movimentação de US$ 2,7 trilhões, um declínio de mais de 30% em relação ao ano passado.
Mas na faixa que engloba operações de médio porte (entre US$ 1 bilhão e US$ 5 bilhões), a situação é ainda mais crítica, com um tombo de 43% na arrecadação de 2022.
Enquanto isso, a quantidade de mega negócios (de mais de US$ 5 bilhões) foi praticamente reduzida pela metade, para apenas 73 transações neste ano.
Apesar desses números desanimadores, a área mais prejudicada foi mesmo a de SPACs, que acabou despencando 85% em relação a 2021. Até o momento, o segmento respondeu por apenas US$ 77 bilhões, contribuindo com cerca de 3% para os números totais de fusões e aquisições globais.
Domínio da América do Norte
Regionalmente, os negócios dos EUA foram os mais atingidos, com uma contração de 40% até agora, para US$ 1,2 trilhão, mas ainda superando confortavelmente os US$ 712 milhões da Europa (que amargou uma redução de 24% no valor total) e os US$ 621 bilhões da Ásia-Pacífico (queda de 30%).
Vale notar que a Índia é o único país que está destoando do resto da região, contrariando a tendência geral de queda e obtendo fortes ganhos –tanto em valor quanto em volume de negócios.
Já a América do Norte continua sendo a potência que sempre foi na área de M&As internacionais, com os compradores dos EUA e do Canadá assumindo 40% de todos as operações desse tipo ao longo deste ano.
Mas também não podemos esquecer das empresas do Reino Unido, que foram responsáveis por um décimo da atividade global de fusões e aquisições internacionais, superando significativamente seu peso pelo PIB –além de ficarem em segundo lugar entre as mais visadas no mundo, perdendo somente para as dos EUA.
Por outro lado, as companhias chinesas responderam por apenas 3% das aquisições internacionais, e na categoria de “empresas-alvo” ficaram com a sétima colocação, ambos números refletindo o foco essencialmente doméstico das operações de M&A do país asiático.
Investidores receosos
Mesmo os patrocinadores de private equity, que têm sido extremamente ativos nos últimos dois anos (pelos padrões históricos), pisaram no freio recentemente.
No último trimestre, as aquisições realizadas por firmas de private equity diminuíram em aproximadamente um quarto em relação ao mesmo período de 2021, para US$ 654 bilhões. O resultado de 2022, no entanto, ainda se mostra positivo, com alta de 23%, mas como grande parte do recuo vem ocorrendo desde meados do ano, ao final do quarto trimestre deveremos ter uma percentagem significativamente menor.
Perda para os bancos de investimento
Surpreendentemente, apesar da instabilidade do mercado, o índice de desistência de operações de M&A em 2022 mostra-se até agora 9% menor do que no ano passado.
E é preciso notar que cerca de 45% dos negócios que não foram adiante envolviam um alvo europeu, como na tentativa de aquisição da divisão de consumo da GSK pela Unilever, e na da Nvidia pela Arm Ltd.
Mesmo assim, o declínio na atividade agregada em 2022 acabou atingindo os lucros dos bancos de investimento.
Janeiro de 2022 encerrou uma série de dezesseis meses consecutivos de taxas bancárias globais de investimento ultrapassando os US$ 10 bilhões – um feito alcançado apenas duas vezes depois disso, em março e junho deste ano.
Neste mês de setembro o valor foi praticamente metade disso, representando o pior mês de tarifas de banco de investimento em nove anos.
Os banqueiros dos EUA compartilharam 41% do pool de taxas globais, enquanto seus colegas europeus ficaram com apenas um quinto disso. Já os deal makers da região Ásia-Pacífico tiveram sua maior participação em todos os tempos: 27%.