Sempre que há uma crise internacional, é costume recorrer ao dólar americano, já que ele é considerado uma moeda de menor risco. Mas esse seu status (não oficial) como “moeda reserva” do mundo acaba de ser fortemente ameaçado pelas questões envolvendo o teto da dívida dos EUA –e é provável que venha a acontecer novamente.
- O dólar americano é amplamente considerado a “moeda reserva” internacional. Mas as recentes controvérsias a respeito do teto da dívida dos Estados Unidos gerou incertezas políticas e econômicas este ano, e é provável que isso ocorra de novo.
- Se os EUA deixassem de pagar sua dívida, isso poderia levar a consequências prejudiciais para o status do dólar americano como “moeda reserva”.
- Um novo white paper da Fathom Consulting, “Is the dollar’s status as a reserve currency at risk?”, analisa em detalhes as perspectivas da divisa norte-americana.
O dólar americano é conhecido por ser uma espécie de “moeda reserva”, ou seja, um status geralmente conferido à divisa utilizada na maior parte das transações financeiras e em reservas oficiais no mundo. E até agora, pelo menos, nenhum rival parece estar perto de roubar esse seu posto, o que não quer dizer que ele é vitalício, livre de riscos.
Por exemplo, semanas atrás, um embate doméstico nos EUA –as negociações envolvendo o teto de dívida norte-americana— provocou incertezas econômicas e colocou sob judice esse papel do dólar.
Explica-se: o atual teto de 31,4 trilhões de dólares já havia sido atingido em janeiro, mas o Departamento do Tesouro americano tomou medidas extraordinárias para garantir o funcionamento das atividades governamentais até o início de junho. E, para evitar que o governo ficasse sem dinheiro e inadimplente, após um longo impasse, foi negociado entre o presidente Biden e os republicanos um projeto de lei envolvendo a extensão do limite, mas só aprovado em cima da hora, em 1º de junho.
A tensão que envolve as negociações em torno da dívida americana não é algo exatamente novo, e quase sempre costuma se dissipar com o aumento do teto. O problema, no entanto, é que ela provavelmente se repetirá nos próximos anos, gerando temores de inadimplência do governo dos EUA caso haja alguma mudança no script.
Um calote dos EUA teria enormes implicações para os mercados financeiros e, claro, para a economia real do país, prejudicando a confiança no próprio conceito de “taxa livre de risco”, como explica o white paper da Fathom, produzido sob encomenda da Refinitiv.
Em consequência do recente impasse a esse respeito nos EUA, os spreads de credit default swaps (CDS) de curto prazo, que refletem a probabilidade de inadimplência do governo dos EUA, aumentaram significativamente, superando a alta anterior relacionada ao teto da dívida. Isso foi uma reação direta às preocupações dos investidores com o aumento dos riscos (embora a probabilidade de inadimplência tenha permanecido baixa).
Após a elevação do teto da dívida, os spreads dos CDS diminuíram, mas a prolongada disputa sobre o teto, que parece ter se tornado o padrão, pode diminuir lentamente a confiança no dólar.
Como demonstra o novo relatório da Fathom, se o dólar perdesse sua posição como “moeda reserva”, os Estados Unidos seriam prejudicados economicamente. Isso porque o status “acabou concedendo aos EUA um privilégio exorbitante” (frase cunhada por Valéry Giscard d’ Estaing quando atuou como ministro das Finanças da França na década de 1960), que permite ao país financiar seus empréstimos ao redor do globo de forma barata.
A forte demanda por ativos dos EUA também eleva seus preços e faz com que os rendimentos (ou taxas de juros) necessários para garantir empréstimos sejam correspondentemente mais baixos. Inclusive, os investidores estrangeiros obtêm um rendimento médio menor em seus investimentos nos EUA do que o dos investidores americanos no exterior.
A alta demanda por ativos dos EUA é uma das razões pelas quais o país tem sempre sido capaz de financiar um amplo déficit comercial. Como mostra o Gráfico 3, esse déficit equivalia a quase 6% do PIB dos EUA no final dos anos 2000, financiado em grande parte por entradas de investimentos de portfólio.
Se o dólar não ocupar mais a posição de “moeda de reserva”, a economia dos EUA perderá esse enorme impulso.
Além disso, os EUA teriam menos influência econômica sobre outros países. A maioria das economias está exposta tanto ao dólar americano quanto aos ativos denominados em dólar, o que aumenta o poder dos EUA na hora de impor sanções econômicas. Aliás, ficou evidente que, antes da invasão da Ucrânia, a Rússia diminuiu suas participações em títulos do Tesouro dos EUA e, portanto, sua exposição a possíveis sanções. Agora, a China –o segundo maior detentor de títulos do Tesouro dos EUA e o principal rival geopolítico dos EUA— está fazendo o mesmo.
Como o novo white paper da Fathom explica, para que o dólar americano perca seu status mundial de “moeda reserva”, outra moeda teria que estar pronta para ocupar seu lugar. Mas, será que seus principais rivais, o euro e o renminbi, cumprem atualmente com os critérios necessários para esse desafio?
Para saber mais detalhes desta história, os clientes da Refinitiv podem ler na íntegra o white paper “Is the dollar’s status as a reserve currency at risk?”.
A Fathom Consulting é uma consultoria líder de mercado, especializada em economia global, geopolítica e mercados financeiros. Para obter mais informações, acesse www.fathom-consulting.com