Diante dos baixos rendimentos obtidos em renda fixa, os investidores estão mirando em infraestrutura como uma fonte alternativa de retornos de longo prazo.
- Uma década de taxas de juros baixíssimas e compras de ativos em grande escala pelos bancos centrais tornaram o setor de infraestrutura bem atraente para os investidores.
- O apetite por investimentos de longo prazo aumentou com o achatamento das curvas de rendimento, como o dos títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA, que rende atualmente pouco mais de 1% ao ano.
- Existe espaço e oportunidade para o rápido crescimento da infraestrutura e, exatamante por isso, os investidores institucionais estão de olho no setor.
Durante o boom das estradas de ferro vitorianas na Grã-Bretanha do século 19, muita gente comprou ações das empresas ferroviárias recém-instaladas no país. Mas, enquanto alguns lucraram enormemente com a iniciativa, outros perderam altas somas de dinheiro no momento em que a bolha do mercado de ações explodiu. Mesmo assim, milhares de quilômetros de ferrovias foram construídos, contribuindo para a prosperidade econômica inglesa.
Agora, mais uma vez, as atenções se voltam para o investimento em infraestrutura, só que por meio de mercados privados e não de equities de empresas públicas.
Parece provável, portanto, que essa se torne uma classe de ativos cada vez mais importante para investidores institucionais em busca de melhores retornos financeiros.
Após uma década de taxas de juros baixíssimas e compras de ativos em grande escala pelos bancos centrais, aplicar em infraestrutura parece cada vez mais vantajoso. Tudo bem que houve uma queda dos retornos oferecidos por ativos essenciais, como água, eletricidade e gás, mas eles ainda se mantêm muito mais rentáveis do que, por exemplo, títulos corporativos com grau de investimento (com média de pouco mais de 2%) e títulos do governo (ligeiramente acima de 0%).
Alternativa de investimento
A queda nos rendimentos dos títulos incentivou investidores a assumir mais riscos, comprando ativos como os chamados junk bonds e startups de tecnologia. Faria muito mais sentido, no entanto, apostar em infraestrutura.
E, em um momento em que os orçamentos governamentais estão esticados até o limite pelos custos decorrentes da pandemia, o setor certamente precisa de capital. Além disso, a infraestrutura desempenha um papel importantíssimo nas estratégias de crescimento de inúmeros países, como bem exemplifica o Acordo Verde Europeu, estabelecido em 2019.
Quantificando as expectativas de crescimento nessa área, a consultoria PwC prevê que os ativos em fundos de infraestrutura podem dobrar para cerca de US$ 2 trilhões até o final de 2025. Isso se daria em função da necessidade de reforma de estradas, aeroportos e hospitais e de desenvolvimento de novos projetos relacionados a 5G e energia renovável.
O fato é que o investimento privado nesse segmento caiu nos últimos dez anos, e agora há uma lacuna de US$ 15 trilhões a ser preenchida até 2040, segundo o G20 Global Infrastructure Hub. E isso ocorre justamente no momento em que o FMI pediu aos países ricos que impulsionassem gastos públicos em infraestrutura para apoiar a recuperação econômica, estimulando mais aportes do setor privado.
Mas há razões pelas quais investidores institucionais, como fundos de pensão, não alocaram mais capital em infraestrutura. Normalmente, eles compram ativos existentes (“brown”) e os usam para gerar fluxos de caixa. Assim, evitaram desenvolver novos ativos (“green”), considerando-os muito arriscados. Então, por que isso pode mudar?
Mudança de percepção
Em primeiro lugar, há a necessidade de retornos financeiros. E, como uma espécie de gota d’água no deserto, o setor de infraestrutura oferece perspectiva de desempenho relativamente alta quando os rendimentos dos títulos de renda fixa estão próximo de zero.
Nos últimos 10 anos, o índice EDHECinfra de títulos de infraestrutura não listados teve um rendimento de 14,6% ao ano. Embora as taxas variem significativamente de um fundo para outro e dependam do tipo de área em que se dá o investimento, isso nos oferece uma ideia do potencial da categoria.
Além disso, as curvas de rendimento achatadas ressaltaram a atratividade das aplicações de longo prazo. Para se ter uma ideia, os títulos de 10 anos do governo norte-americano estão rendendo pouco mais de 1% ao ano, não muito melhor do que os de 2 anos. Diante desse cenário, o apetite do investidor para apostas de longa duração só faz aumentar.
E, por último, à medida que se torna mais difícil gerar alfa com ações e títulos públicos, as pessoas estão se voltando para os mercados privados, como private equity, crédito e infraestrutura. Elas estão cada vez mais dispostas a assumir riscos de negócios ou de desenvolvimento associados a ativos de infraestrutura. Afinal, com a alta demanda por ativos essenciais –que oferecem maior resiliência às crises econômicas—, a tendência é se acostumar com um certo grau de incerteza no portfólio.
Assista: “Infrastructure – The Big Explainer”
Setor de grandes oportunidades
Há um ímpeto crescente para que infraestrutura se fortaleça como uma classe de ativos. E, claro, os investidores institucionais já exploram as diferentes possibilidades na área. De acordo com uma recente pesquisa da Preqin, 56% dos entrevistados esperam aumentar suas alocações no setor em cinco anos; apenas 7% dos respondentes pretendem reduzí-las. (1)
Obviamente, existe hoje uma enorme necessidade de desenvolvimento de infraestrutura sustentável, menos intensiva em carbono, o que trará inúmeras oportunidades para o mercado financeiro. Essa classe de ativos engloba desde energia renovável e transporte verde até água, resíduos sustentáveis e edifícios verdes.
A União Europeia, por exemplo, tem planos altamente ambiciosos para impulsionar o segmento, já que busca cumprir seus objetivos para uma economia de carbono zero até 2050. E o bloco tem a clara noção de que o financiamento privado será necessário para evitar um déficit de capital.
Olhando para o futuro, parece que, mais uma vez, investimentos em infraestrutura se tornarão populares, à medida que os baixos rendimentos de muitas aplicações obriga o mercado a considerar outras opções.
Assim como as ferrovias foram um impulsionador do crescimento econômico e da prosperidade há 200 anos, os parques eólicos, tecnologia 5G e edifícios verdes provavelmente o serão nos próximos anos.
- Future of alternatives 2025: laying the foundations for infrastructure growth. Preqin. Novembro de 2020.
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