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Economia climática e as eleições nos EUA

Leon Saunders Calvert
Leon Saunders Calvert
Head of Sustainable Investing & Fund Ratings

Há expectativas de que a posse de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos resulte em mudanças significativas nas decisões dos EUA sobre suas políticas de sustentabilidade – com consequências para os investidores. A Refinitiv e a Fathom Consulting analisam o futuro da economia climática, incluindo tendências para as emissões de carbono e os esforços de descarbonização.


  1. Espera-se que Joe Biden reintroduza os EUA no Acordo de Paris e possa estimular a criação de um imposto alfandegário sobre o carbono.
  2. As economias emergentes têm um grande interesse na descarbonização, caso seja aprovado um imposto de exportação sobre as emissões de carbono.
  3. Ainda existem grandes armadilhas potenciais no processo de descarbonização, incluindo penalizar injustamente as economias emergentes, encorajar o protecionismo e reduzir o comércio global.

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Um webinar recente patrocinado pela Fathom e pela Refinitiv abordou as principais decisões políticas que poderiam ser tomadas em caso de uma vitória de Biden (que agora já ocorreu) e seu impacto na economia climática.

O ano da COVID-19 vem sendo um experimento social interessante em sustentabilidade porque, de repente, tivemos um exemplo de como é fazer muito menos em nossas vidas. Até o final do ano, as emissões de carbono cairão cerca de 5% devido às restrições impostas pela pandemia.

As consequências são impressionantes, porque o Acordo de Paris essencialmente pede uma redução de 7% nas emissões de carbono a cada ano pelos próximos 10 anos. Apenas fazer menos, mesmo fazendo menos de uma forma insustentável, não vai levar o mundo para onde ele precisa estar.

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Qual é o futuro da economia climática?

Precisamos de uma mobilização em massa dos mercados financeiros para fins de P&D e de investimentos reais em soluções com potencial de descarbonização em grande escala – transportes, energia etc. Os comportamentos individuais por si só não serão suficientes para resolver os problemas.

A política desempenha um papel extremamente importante. Ajuda a tornar a energia suja mais cara e a baratear a energia limpa. Ajuda a subsidiar e promover financiamento para os lugares certos e a estimular a adoção de abordagens diferentes e de novas tecnologias.

Estamos saindo da maior recessão global da história, demonstrando que a resposta para a crise climática não é a interrupção do crescimento, mas sim a descarbonização.

O impacto de Joe Biden na economia climática

Quando assumir o cargo, Joe Biden terá uma grande influência sobre as oportunidades e desafios que se avizinham e espera-se que ele adote uma postura mais proativa na política climática do que seu antecessor. Ele nomeou o ex-secretário de Estado John Kerry como seu enviado especial para o clima.

A administração Trump apresentou formalmente seu desejo de deixar o Acordo de Paris (embora 25 estados dos EUA nunca tenham saído, apesar da política federal de Trump). Biden, no entanto, disse que os EUA voltarão imediatamente ao acordo.

Os EUA são o segundo maior emissor de CO2 do mundo, depois da China. Por outro lado, os EUA também são líderes na redução de emissões. Portanto, sua liderança global acerca do clima é vital.

Ouça o podcast: The Paris Agreement & International Climate Cooperation: What’s Next?

O estoque global de emissões de carbono, responsável por impulsionar o aquecimento global, é um problema internacional. A queima de combustível fóssil resulta em emissões de carbono que permanece na atmosfera por um longo tempo. Assim, o estoque de emissões precisa parar de crescer.

Globalmente, as emissões precisam cair mais rápido do que aumentaram para manter o aquecimento em níveis “seguros” – exigindo grandes mudanças nas estruturas econômicas, a começar pela forma com que a energia é produzida. Em vez de queimar combustíveis fósseis, devemos priorizar as formas renováveis de energia.

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Como os investidores estão se adaptando às mudanças?

Os investidores estão começando a levar essa tendência a sério, antecipando regulamentações que vão exigir mudanças em nossa matriz energética. Em 2020, as ações globais de renováveis, conforme acompanhadas pelo Índice Mundial de Energia Renovável, superaram significativamente o desempenho do Índice MSCI de Petróleo, Gás e Combustíveis.

Ainda existe, no entanto, uma grande lacuna entre o que é necessário para mitigar as mudanças climáticas e o que foi formalmente prometido pelos países que assinaram o Acordo de Paris.

A UE, o Reino Unido, o Canadá, a Coréia do Sul e o Japão se comprometeram a obter saldo zero nas emissões de carbono até meados deste século – e a China até 2060.

A questão é: outros farão o mesmo? A opinião pública está mudando, sugerindo que mais iniciativas climáticas são prováveis, mesmo nos EUA, onde as emissões de CO2 apresentam tendência de queda desde 2006.

Biden se comprometeu a fazer os EUA chegarem ao saldo zero até 2050 e prometeu um pacote climático de US$ 2 trilhões para financiar iniciativas que reduzam as emissões de carbono.

Os países da Europa Ocidental e a América do Norte reduziram parcialmente suas emissões de carbono nos últimos anos porque as terceirizaram para mercados emergentes.

Isso permite que esses países desenvolvidos mantenham uma boa imagem, mas na verdade não ajuda no contexto geral das emissões globais, já que a indústria pesada e os processos de produção de energia são normalmente mais intensivos em carbono nas economias emergentes. Assim, em uma base global, essa exportação de emissões tem um efeito negativo.

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Impostos alfandegários de carbono

Biden falou sobre a possibilidade da criação de tarifas alfandegárias para o carbono. Como não há mecanismos de coação no Acordo de Paris, tarifas sobre importações, cobradas de países que não cumprem as metas climáticas, poderiam forçá-los a serem mais ambiciosos nessa área. A UE está discutindo algo semelhante.

Isso poderia ter efeitos muito significativos nas emissões de carbono – os exportadores de produtos intensivos em carbono teriam de pagar um imposto sobre a exportação desses bens e serviços para os EUA (e possivelmente para a UE).

Isso criaria um enorme incentivo para que os mercados emergentes, cujas economias são muito dependentes das exportações, adotem tecnologias e práticas de produção de energia de baixo carbono a fim de evitar o pagamento de altas tarifas.

Existem armadilhas potenciais que precisam ser gerenciadas – penalizar injustamente economias emergentes que estão ocupadas tentando crescer, encorajar o protecionismo e reduzir o comércio global na medida em que essas barreiras são erguidas etc.

Essa também pode ser uma fonte maior de tensões entre os EUA e a China, mas os parceiros do Nafta, Canadá e México, podem acabar adotando o plano de Biden.

Essas tendências indicam que os dados da Refinitiv podem ser usados ​​de novas maneiras, em nível macro, para falar, de um ângulo novo e relevante, sobre a questão das finanças sustentáveis ​​e sobre as consequências das políticas dos governos nacionais e dos organismos internacionais.

Inscreva-se no próximo webinar focado no clima da Fathom: ‘The economics of climate change, net zero and what should be done’

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