O recém-estabelecido setor de finanças sustentáveis até que resistiu bravamente às fortes tempestades que atingiram os mercados de capitais no primeiro semestre, mantendo os rendimentos dos green bonds em um bom patamar.
- Com trajetória ascendente até o segundo trimestre, os títulos verdes fecharam os primeiros seis meses do ano com uma arrecadação de US$ 233 bilhões, o que fez com que os rendimentos ultrapassassem US$ 100 bilhões pelo sexto trimestre consecutivo.
- Já a emissão de ações sustentáveis, dominada pela região da Ásia-Pacífico, caiu 95% no segundo trimestre de 2022.
- Enquanto isso, o número de M&As sustentáveis atingiu um recorde histórico no primeiro semestre deste ano: 670 negócios fechados durante o período, um aumento de 22%.
Diante das incertezas geopolíticas e econômicas e do consequente recuo dos mercados de capitais globais, não houve muita saída: o segmento de produtos financeiros sustentáveis também acabou encolhendo durante os primeiros seis meses do ano. Mas, em comparação a outros setores, o seu desempenho foi infinitamente melhor.
Vamos aos números. Os títulos financeiros sustentáveis arrecadaram US$ 422 bilhões no período, queda de 23% na comparação com o primeiro semestre do ano anterior. Isso marca o primeiro declínio da categoria desde que se deu início aos registros, em 2015. Já o número de emissões no primeiro semestre desceu 11%.
A trajetória durante esses meses também foi negativa, com a emissão de títulos sustentáveis no segundo trimestre sendo 9% menor do que a do primeiro trimestre.
Mesmo assim, o capital levantado entre abril e junho ultrapassou US$ 200 bilhões (de mais de 400 emissões) –o sexto trimestre consecutivo em que isso acontece. E, como proporção dos Debt Capital Markets (DCM) em geral, as finanças sustentáveis caíram apenas um ponto percentual, ficando com uma participação de 9% do mercado.
Títulos verdes compensam fraqueza dos títulos sociais
Entre os meses de janeiro e junho, os green bonds continuaram a responder pela maior parte da emissão de títulos sustentáveis, levantando cerca de US$ 233 bilhões, ou seja, um modesto declínio em relação ao ano anterior, de apenas 4%.
No entanto, ao final do segundo trimestre, nos deparamos com uma recuperação que colocaria os títulos verdes perto da máxima de todos os tempos. As receitas da categoria ultrapassaram US$ 100 bilhões pelo sexto trimestre consecutivo –embora, curiosamente, a quantidade de emissões do primeiro semestre tenha diminuído em 13%.
Esses números coincidem com as descobertas da Pesquisa de Opinião de Fornecedores da Refinitiv (2022), em que as respostas se concentraram quase exclusivamente em meio ambiente, deixando de lado questões sociais ou de governança.
Desde o início de 2021, os chamados títulos sociais (ou social bonds) tinham sido quase um espelho dos títulos verdes. Mas, ao longo deste ano, passaram a cair vertiginosamente: 31% somente entre o primeiro e o segundo trimestre. Até o momento, a atividade nessa categoria desmoronou 60% em relação ao primeiro semestre de 2021, e, em número de emissões, 8%.
Em outra frente, a breve recuperação dos títulos de sustentabilidade que testemunhamos no primeiro trimestre foi igualmente prejudicada no período seguinte, fazendo com que o total arrecadado nos primeiros seis meses de 2022 não superasse os US$ 74 bilhões, uma redução de 26% em relação ao mesmo período de 2021; já o número de emissões baixou 18%.
Paralelamente, constatou-se que os emissores corporativos restringiram suas atividades no primeiro semestre, gerando uma queda de 10%. Mesmo assim, diante do recuo ainda maior dos emissores soberanos e de agências, eles mantiveram 63% do mercado (acima dos 53% do ano anterior).
No que diz respeito à região, a Europa continua sendo o continente das finanças sustentáveis, com mais da metade do mercado, enquanto Ásia-Pacífico tem 24%, e Américas, 19%.
Já entre os bancos com maior atuação nesse setor, vimos o BofASecurities consolidando sua liderança, com 5,4% do mercado, seguido por HSBC e JPMorgan.
Como se vê, considerando todas as incertezas de 2022, os primeiros seis meses do ano até que foram surpreendentemente fortes para o mercado de finanças sustentáveis –sobretudo, para os títulos verdes.
Mutuários americanos apoiam empréstimos sustentáveis
O valor agregado dos empréstimos sindicalizados sustentáveis caiu 11% em relação ao ano anterior, totalizando US$ 325 bilhões no primeiro semestre de 2022. No entanto, uma recuperação encorajadora no segundo trimestre fez com que eles subissem 18% no período.
Nessa arena, os mutuários norte-americanos lideraram o caminho e ficaram com 48% do mercado, embora a maior linha de crédito do ano até agora tenha sido o empréstimo de US$ 6,3 bilhões captado pela espanhola Telefonica.
Atrás dos EUA, vieram Europa, responsável por 34% dos empréstimos, e Ásia-Pacífico, com 15%, sua proporção mais baixa para um primeiro semestre desde o início dos registros.
Ásia-Pacífico domina mercado de ações sustentáveis
A turbulência geral nos mercados de capitais fez com que o patrimônio levantado por empresas sustentáveis caísse vertiginosamente durante o primeiro semestre de 2022, com uma arrecadação de apenas US$ 14 bilhões. A maior parte desse valor foi gerada nos primeiros três meses do ano, após os quais o setor afundou 95%, chegando a um patamar que não era visto desde o início de 2018.
Nesse contexto, a região da Ásia-Pacífico foi responsável por 89% das emissões de ações sustentáveis no primeiro semestre de 2022, respondendo por quatro das dez maiores arrecadações, incluindo os impressionantes US$ 11 bilhões levantados em janeiro pela fabricante de baterias para veículos elétricos da Coreia do Sul, LG Energy Solution.
O Morgan Stanley ficou em primeiro lugar na tabelas de classificação dos bookrunners. Juntamente com Goldman Sachs e BofASecurities, os três primeiros dominaram um quarto do mercado de ações sustentáveis.
M&As sustentáveis mostram resiliência
Apesar do nervosismo que tomou conta dos mercados de capitais neste ano, a área de fusões e aquisições envolvendo empresas sustentáveis apresentou um bom desempenho no primeiro semestre de 2022.
No período, foram anunciados negócios que somaram cerca de US$ 90 bilhões, apenas 3% a menos do que nos primeiros seis meses de 2021. Enquanto isso, o número de operações de M&A subiu 22%, atingindo 670, um recorde histórico para qualquer primeiro semestre.
A China foi o país mais ativo no segmento de aquisições corporativas sustentáveis, com 18% do mercado; e a região Ásia-Pacífico concentrou cinco das dez maiores transações de M&A.
No ranking de consultorias de M&A, o JPMorgan, mais uma vez, aparece na dianteira, seguido por Goldman Sachs e Morgan Stanley.