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Japão reage com força à iniciativa Belt and Road da China

Rod Morrison
Rod Morrison
Editor of Project Finance International na Refinitiv

Rod Morrison, editor de Project Finance International da Refinitiv, explora como os investimentos japoneses em infraestrutura no exterior já começam a fazer frente à Iniciativa Belt and Road da China. Confira.


  1. A Belt and Road Initiative (BRI), da China, tem atraído muita atenção ao longo da última década. Há pouco tempo, no entanto, o Japão começou a reagir ao monumental projeto chinês e já vem ostentando resultados impressionantes no setor global de infraestrutura.
  2. O Banco para Cooperação Internacional do Japão (JBIC) está investindo em projetos em todo o mundo. Isso inclui instalações de energia a carvão no Vietnã, negócios de energia solar no Oriente Médio e até usinas eólicas offshore no Reino Unido.
  3. A responsabilidade agora recai sobre os EUA, que devem acionar as novas instituições que criou para neutralizar o impulso chinês.

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O programa de empréstimo para investimento no exterior (OIL, na sigla em inglês) do Japão é conhecido por oferecer uma das melhores condições do segmento de financiamento de infraestrutura. E, de acordo com o mais recente relatório anual de competitividade do Export-Import Bank (Eximbank) dos Estados Unidos –um extenso documento formulado pela instituição sobre seus concorrentes no universo das Agências de Crédito à Exportação (ECA)—, o programa vem se mantendo à frente de seus rivais.

Em 2020, o Banco para Cooperação Internacional do Japão (JBIC) disponibilizou a maior quantia da história para apoiar novos investimentos: US$ 37 bilhões. A soma representou um salto de 90% em relação ao ano anterior, segundo dados do Eximbank.

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Japão reage à iniciativa chinesa

Em 2018, exatamente quando a publicidade global sobre a Belt and Road Initiative atingia o ápice, o JBIC lançou o seu programa de US$ 500 bilhões para Investimento em Infraestrutura de Qualidade para Preservação Ambiental e Crescimento Sustentável (QI-ESG), o que no início de 2020 acabaria se transformando no Mecanismo de Investimento em Crescimento (GIF).

Considerando que o programa QI-ESG original era para ser realizado em apenas três anos, talvez o relatório do Eximbank tenha subestimado a atividade do JBIC. Ainda assim, o crescimento do JBIC entre 2019 e 2020 já mostra o suficiente.

Mas todo esse crescimento não vem ocorrendo sem alguns entraves.

Lobbies ambientais, por exemplo, têm criticado o Banco para Cooperação Internacional do Japão (JBIC) pelo uso do programa QI-ESG/GIF em projetos como a usina de energia a carvão Vung Ang 2, no Vietnã, no final do ano passado, além de outras estações de energia a gás.

Em suas apresentações, no entanto, o JBIC tem garantido que a Vung Ang 2 –segundo esquemas de análises supercríticos— é uma usina altamente eficiente.

Vung Ang 2 coal-fired power plant project. Japan’s challenge to Belt and Road gains momentum
Projeto da usina elétrica a carvão Vung Ang 2

Além desses projetos controversos, o JBIC também vem focando em iniciativas verdes. A instituição está assumido estruturas de financiamento do tipo soft mini-perm no Oriente Médio para negócios de energia solar, e seu arsenal de crédito tem se mostrado muito eficaz para empresas japonesas que concorrem a concessões eólicas offshore no Reino Unido.

Como parte do programa QI-ESG/GIF, o banco reduziu o valor de capital japonês exigido para um projeto de 33% para 10%, já que isso seria necessário para se qualificar a empréstimos para investimentos no exterior (OIL). E de quebra, as empresas japonesas não precisarão necessariamente receber o contrato de operação e manutenção (O&M) de um negócio.

A boa notícia para o setor global de infra-estrutura e energia (a menos, é claro, que você esteja competindo contra uma proposta apoiada pelo JBIC) é que muitos desses acordos de empréstimos para investimento no exterior envolveram cofinanciamento de bancos comerciais ou instituições sem financiamento japonês.

Com isso, o mercado global se beneficia –e também devemos lembrar que o JBIC nem sempre é imbatível.

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A China, por outro lado, não está dormindo

O Export-Import Bank (Eximbank) da China, líder global em apoio ao investimento em 2019, apresentou queda de 20% em seus empréstimos em 2020, mas mesmo assim eles somaram US$ 18 bilhões, bem à frente de seus pares, exceto o JBIC. E o suporte oferecido para o comércio e exportação de médio a longo prazo (em todos os produtos) girou em torno de US$ 18 bilhões (de novo, bem abaixo dos US$ 33 bilhões de 2019, mas ainda o maior valor global).

O financiamento oficial chinês parece ser mais disciplinado em termos de apetite por risco, mas dados recentes confirmam o aumento da “opacidade”, tornando sua atividade mais difícil de rastrear, segundo o Eximbank dos EUA. “Novas evidências destacam como a China tem evitado a publicação de seus compromissos de financiamento por meio de cláusulas de confidencialidade em contratos de empréstimo”, informa o banco norte-americano.

Não surpreendentemente, os chineses não responderam aos diversos pedidos de informação do Eximbank dos EUA, e o uso de cláusulas confidenciais nos negócios do Eximbank chinês remonta a 2014, de acordo com um relatório da instituição. Mas, devido à publicidade negativa em alguns projetos do Belt and Road nos últimos anos, talvez não seja de espantar que a publicidade sobre o programa de investimento chinês esteja em baixa no momento.

Apoio financeiro dos EUA para o desenvolvimento global

A terceira parte do triângulo de apoio ao desenvolvimento global –ou seja, o outro bloco capaz de financiar projetos de energia e infraestrutura ao redor do mundo—, são obviamente os Estados Unidos.

Para se ter uma ideia, o Export-Import Bank (Eximbank) dos EUA tem uma linha de financiamento ainda mais competitiva do que o JBIC. Trata-se de seu próprio empréstimo direto, que, por exemplo, concedeu US$ 5 bilhões ao empreendimento Mozambique LNG. Este programa dos EUA, contudo, é muito mais vinculado aos requisitos de conteúdo industrial dos EUA do que os empréstimos para investimento estrangeiro do banco japonês.

O Eximbank norte-americano passou recentemente por alguns problemas internos, mas agora está completamente autorizado pelo Congresso dos EUA a seguir adiante com os negócios –desde que remeta aos congressistas relatórios de competitividade.

A introdução da nova U.S. Development Finance Corporation (DFC), que substituiu a OPIC, deve impulsionar o desempenho dos Estados Unidos nessa seara. Mas, como ressalta o Eximbank dos EUA: “Inúmeros exportadores e credores argumentam que os baixos níveis de atividade refletem, em parte, a relutância do exportador norte-americano em buscar apoio do Eximbank devido à alta carga de documentos e aos processos de due diligence mais longos em comparação com as ECAs estrangeiras.”

O Eximbank dos EUA ainda acrescenta que os governos, principalmente europeus, estão adotando uma abordagem para o financiamento oficial “envolvendo várias agências governamentais como forma de aumentar a competitividade”.

Esse deveria ser o principal recado para o Congresso norte-americano.

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