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Mercado de trabalho: o que as empresas podem aprender com o impacto da Covid-19 sobre as mulheres?

Rachel Lojko
Rachel Lojko
Head of Proposition Sales para Américas, Refinitiv

Dados demonstram que, nos EUA, as mulheres foram particularmente atingidas pelo impacto econômico provocado pela pandemia. E isso deveria ser um alerta para que as organizações entendam de uma vez por todas a necessidade de proteger esses empregos, apoiando de forma proativa a diversidade na força de trabalho.


  1. As mulheres estão perdendo espaço na força de trabalho dos EUA mais rapidamente do que os homens. Essa é uma tendência alarmante, impulsionada pela crise econômica gerada pela Covid-19 e pelo seu impacto descomunal sobre o sexo feminino.
  2. Menos trabalhadoras participando ativamente da economia podem significar um retrocesso na redução da diferença de gênero na remuneração da força de trabalho dos EUA, prejudicando as perspectivas de crescimento.
  3. As empresas encontram-se em uma posição favorável para focar na recuperação pós-Covid-19 valorizando a experiência de gênero na força de trabalho.

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As mulheres estão sendo excluídas da força de trabalho norte-americana em um ritmo maior do que os homens, escancarando um movimento alarmante impulsionado não apenas pela crise econômica deflagrada pela pandemia, mas também pelo seu impacto desproporcional sobre esse grupo.

À medida que as famílias continuam a enfrentar os desafios da vida profissional e familiar, incluindo a educação à distância, muitas profissionais estão deixando o mercado de trabalho por falta de apoio, altos custos com creches e salários inferiores aos dos seus colegas de profissão.

Essa tendência levanta preocupações sobre o papel crucial das mulheres para a prosperidade dos EUA –uma economia de US$ 20,8 trilhões, a maior do mundo [1]— e o que os empregadores estão fazendo para protegê-las durante períodos como os que estamos vivendo.

A partir da segunda metade do século XX, quando o crescimento dos Estados Unidos começou a acelerar, as baby boomers, nascidas entre 1946 e 1964, ingressaram na força de trabalho em grande número. Essa geração contribuiu com entusiasmo para a maior participação feminina no mercado de trabalho norte-americano.

Apesar de um claro aumento na taxa de participação das mulheres na força de trabalho dos EUA desde 1960 (Gráfico 1), a pandemia continua a afetar a disponibilidade de empregos femininos (Gráfico 2), assim como ocorreu durante a crise financeira global, uma década antes. Aproximadamente 2,3 milhões de trabalhadoras foram excluídas do mercado norte-americano desde janeiro de 2020.

Figura 1: Covid-19 impacta a taxa de participação de mulheres na força de trabalho dos EUA

Mulheres como percentagem da folha de pagamento não agrícola Fonte: Datastream [1] World Economic Outlook Database, outubro de 2020, IMF.org.
Gráfico 2: O número de mulheres na força de trabalho dos EUA está diminuindo em comparação ao número de homens

Fonte: Datastream

Como revela o Gráfico 1, as mulheres foram responsáveis por aproximadamente 50% das folhas de pagamento não agrícolas nos EUA nos últimos 10 anos. No entanto, durante 2020, a taxa de crescimento anual dessa parcela da população como porcentagem da folha de pagamento não agrícola diminuiu substancialmente (ver Gráfico 1). Em comparação aos homens, a força de trabalho feminina encolheu em um ritmo consistentemente maior desde o início da pandemia, em março de 2020 (Gráfico 2).

No auge da primeira onda da crise sanitária global, em abril-junho de 2020, o índice de desemprego feminino atingiu o pico de 16,1%, e o masculino, 13,6% (Gráfico 3) – níveis historicamente altos para ambos os grupos. No Canadá, desde março de 2020 as mulheres também vêm perdendo mais posições do que os homens (Gráfico 4).

Gráfico 3: Taxa de desemprego nos EUA – mulheres vs homens (2019 a 2021)

Fonte: Datastream

Gráfico 4: Mulheres no Canadá perderam mais empregos do que os homens (2020-2021)

Fonte: Datastream

A Covid-19 afetou mais mulheres negras e hispânicas

Embora as manchetes deste ano nos EUA indiquem que ambos os sexos estão enfrentando níveis de desemprego semelhantes, de mais de 6%, a pandemia tem impactado mulheres negras e hispânicas (~ 9%) mais do que as brancas (~ 5%) (Gráfico 5 ). E, apesar de os índices de participação de mulheres negras e hispânicas no mercado de trabalho serem mais altos do que os de brancas, o declínio, desde o começo da pandemia, também tem sido maior para esses dois primeiros grupos.

Gráfico 5: Níveis de desemprego nos EUA para mulheres negras, brancas e hispânicas (2019-2021)

Fonte: Datastream

Mulheres e minorias: as mais afetadas

Em um relatório de novembro de 2020, intitulado “Pandemic Disproportionately Affects Women, Minority Labor Force Participation” (“Pandemia Afeta Desproporcionalmente Mulheres, Participação de Minorias da Força de Trabalho”, em tradução livre), o Federal Reserve Bank de Dallas explica como certas mulheres são mais afetadas. [2] “Mulheres com filhos, especialmente as negras e aquelas sem diploma universitário, enfrentaram os declínios mais acentuados e se recuperaram de forma muito mais lentas em relação às que não têm filhos”, diz o relatório.

[2] https://www.dallasfed.org/research/economics/2020/1110

Ao considerar que as atuais condições do mercado de trabalho são exclusivas da pandemia e deverão retornar aos níveis pré-pandêmicos, os autores do documento acreditam que para esses grupos a realidade será outra. Com base na experiência relativamente recente, o relatório conclui: “A lenta recuperação da Grande Recessão nos diz que os declínios nas taxas de participação, particularmente para grupos demográficos vulneráveis, podem levar anos para serem totalmente revertidos, além de prejudicar a economia de forma geral.”

Apoiando as mulheres, impulsionando o crescimento econômico

Menos trabalhadoras participando ativamente da economia podem significar um retrocesso na redução da desigualdade entre gêneros na força de trabalho dos EUA, minando o crescimento econômico.

De acordo com um estudo da McKinsey & Company, a diversidade de gênero é muito importante: “As empresas que se encontram no quartil superior para diversidade de gênero em equipes de executivos têm chances de lucro 21% maiores que seus pares, e 27% mais probabilidade de criar valor.” [3]

[3] Delivering through Diversity, McKinsey & Company, janeiro de 2018

O mesmo relatório da McKinsey descobriu que as companhias que estão no quartil superior em diversidade étnica e cultural em times de executivos estão 33% mais propensas a ter lucratividade líder no setor.

Mas, por que as políticas de diversidade e inclusão são tão importantes para ajudar a manter a participação das mulheres no mercado de trabalho, especialmente durante esta pandemia? As organizações que apoiam seus funcionários tanto em épocas boas quanto nas complicadas têm mais chance de promover a lealdade, reter profissionais valiosos em todos os níveis da organização e melhorar o seu desempenho.

Durante a primeira onda de Covid-19 na costa leste dos EUA, em abril de 2020, Wei Zheng, professor associado de administração no Stevens Institute of Technology, realizou uma pesquisa em que encontrou vários comportamentos de liderança que apoiaram os funcionários com estabilidade, capacitação e inclusão. [4]

[4] 5 estratégias para apoiar seus funcionários durante uma crise, Wei Zheng, Harvard Business Review

O seu estudo apontou que o suporte individualizado é muito importante. “Quando os líderes mostraram uma compreensão das necessidades, preferências e circunstâncias dos funcionários quando se tratava de acordos de trabalho, esses indivíduos sentiam que recebiam o suporte individualizado de que precisavam para cumprir as metas de trabalho.”

Abordando a insegurança no emprego

Dados demonstram que as mulheres têm experiências piores ​​sobre segurança no local de trabalho em comparação com os homens. O Gráfico 6 indica que, mesmo antes da Covid-19, trabalhadoras em todo o mundo já se sentiam menos seguras no emprego do que os homens. À medida que a pandemia progrediu, no entanto, as incertezas sobre manutenção da posição de trabalho cresceram muito mais para o sexo feminino do que para o masculino –muito embora os homens enfrentem atualmente o mesmo nível de incerteza que as mulheres antes da pandemia.

Gráfico 6: Incertezas sobre segurança no emprego para homens e mulheres (janeiro de 2020 versus março de 2021)

Fonte: Datastream

Busca conjunta por uma solução

Um problema medido por dados confiáveis ​​é algo que pode ser identificado e, em última análise, resolvido com uma ação adequada. Assim, as empresas encontram-se em uma posição favorável para focar na recuperação pós-Covid-19 valorizando a experiência de gênero na força de trabalho. Elas também podem garantir que estarão fazendo tudo ao seu alcance para proteger a diversidade e as credenciais de inclusão em seus quadros, aprendendo com os principais eventos, como esta pandemia, para oferecer uma proteção mais robusta a essa parcela da população no futuro.

Compartilhe suas ideias e experiências comigo por meio do LinkedIn e do Twitter para que possamos entender como as empresas estão lidando com o impacto desproporcional da Covid-19 sobre as mulheres. Seria ótimo incorporar vários pontos de vista e abordagens que as companhias estão adotando em meus próximos artigos sobre esse assunto.

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