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Os mercados de capitais veem a recuperação lenta no primeiro semestre

Matthew Toole
Matthew Toole
Director, Deals Intelligence

Matthew Toole analisa os primeiros seis meses de 2023, em que o grande crescimento dos mercados globais de capitais visto na segunda metade de 2022 foi freado.


  1. Soberania sofre recuo de 5% na emissão de dívidas, chegando a US$ 4,7 trilhões.
  2. Os mercados de ações subiram em 13%, mas os IPOs permanecem escassos.
  3. Área de saúde registra crescimento em meio a cenário pouco favorável

A emissão de dívidas abriu o ano positivamente, mas permanece inerte em relação ao mesmo período do ano passado. Já a emissão de ações se estabilizou, embora com uma taxa de execução quase 50% menor em relação ao aumento registrado entre 2020 e 2021. O espaço de fusões e aquisições registrou seu primeiro semestre mais baixo desde 2020, uma vez que até mesmo compradores de títulos privados com capital robusto tiveram que pisar no freio.

Um total de US$ 4,7 trilhões em dívida foi emitido em todos os mercados globais de capitais de dívida nos primeiros seis meses de 2023, uma queda de 5% em relação ao mesmo período do ano passado. A queda foi impulsionada por um declínio contínuo da emissão por mutuários de agência, supranacionais e soberanos após as medidas de Covid. Mas há boas notícias em vista…

Os mutuários corporativos estão retornando ao mercado com cautela. Embora não seja suficiente para compensar o recuo do setor público, a disposição para emissão de grau de investimento se recuperou da queda registrada no final de 2022, chegando a US$ 2,4 trilhões, um aumento de 1% em relação ao primeiro semestre de 2022.

Enquanto isso, a emissão de alto rendimento se recuperou dos níveis baixíssimos do final de 2022, aumentando 30% para um valor de US$ 119,5 bilhões. Emissores de alto rendimento dos EUA, Alemanha e Canadá representaram três quartos do mercado global.

Outro ponto de destaque são os títulos verdes, que estão crescendo a 19% ano a ano e ultrapassaram o mercado de alto rendimento em tamanho. No primeiro semestre de 2023, foram emitidos US$ 271 bilhões em títulos verdes, e a expectativa para essa categoria permanece positiva: a emissão recorde no segundo trimestre foi 11% maior do que os primeiros três meses do ano, de acordo com os dados da Refinitiv e da Climate Bonds Initiative.

Alguns setores relacionados ao consumidor estão observando um retorno saudável na emissão de dívidas no primeiro semestre de 2023, com mídia e entretenimento e produtos do consumidor registrando um crescimento percentual de dois dígitos, juntamente com o setor energia. Por outro lado, a emissão dos setores de varejo e telecomunicações diminuiu.

Enquanto isso, os mercados de empréstimos estão passando por um descompasso mais prolongado entre mutuários e financiadores, com os empréstimos sindicalizados globais sofrendo uma queda 23% durante o primeiro semestre, chegando ao sétimo ano de baixa com US$ 2 trilhões.

Nas tabelas de classificação do mercado de capitais de dívida, o JPMorgan permanece pelo sexto ano consecutivo como o principal segurador nos mercados globais de dívida, enquanto o BofA Securities ultrapassa o Citi e assume o segundo lugar.

Refinitiv Deals Intelligence: acesse inteligência de mercado atualizada.

Polarização nos mercados de ações

Os mercados de ações globais continuam a ser altamente criteriosos, com uma maior inclinação para ações estabelecidas e muito mais cuidado com novos emissores. A atividade geral no ECM é positiva: um aumento de 13% ano a ano que totaliza US$ 275 bilhões e um crescimento de 10% por número de processos para atingir 2.300.

As ofertas de acompanhamento geraram US$ 172 bilhões no primeiro semestre, um número superior a 20% em relação ao ano passado, enquanto as ofertas conversíveis saltaram para 55%, o que representa US$ 45 bilhões.

No entanto, a disposição por novos tickers permanece fraca, com rendimentos de ofertas públicas iniciais caindo 22% em todo mundo para apenas US$ 57 bilhões, o valor mais baixo dos últimos sete anos. As flutuações de câmbio nos EUA dobraram, mas de uma base muito baixa, consolidando menos de US$ 9 bilhões durante seis meses, em comparação com mais de US$ 30 bilhões dos rendimentos de IPO levantados nas bolsas de valores da China.

Nas classificações de consultoria do mercado de capitais e ações, a Goldman Sachs manteve a primeira posição como a seguradora de títulos mais ativa em todo o mundo pelo terceiro primeiro trimestre consecutivo, enquanto o Morgan Stanley e o BofASecurities se recuperaram de um período relativamente ruim para assumir o segundo e terceiro lugar, respetivamente.

Fusões e aquisições no setor de saúde: a única opção viável?

Se o mercado de fusões e aquisições estiver inerte (e ele está), isso parece não se aplicar ao setor de saúde. Embora os níveis de negociação tenham despencado, as fusões e aquisições no setor de saúde cresceram 43% em comparação com o mesmo período do ano passado, totalizando US$ 188 bilhões e representando 14% do mercado global de fusões e aquisições. Por outro lado, as negociações no setor de energia caíram 23%, enquanto as transações no setor de tecnologia estão a apenas um terço dos níveis registrados no início de 2022, uma queda de 66%.

No geral, o mercado de fusões e aquisições em todo o mundo caiu 37% no primeiro semestre de 2023, para US$ 1,3 trilhão, o primeiro semestre mais lento para fazer negócios desde 2020. O número de negociações também caiu para 27.300 transações, uma queda mais modesta de 9%, refletindo um maior recuo entre as aquisições de ingressos maiores.

As fusões e aquisições na Europa foram as mais atingidas, caindo quase pela metade ano a ano e chegando a US$ bilhões 263 – o período mais lento da última década. As negociações nos EUA diminuíram um pouco, 40% (US$ 566 bilhões), o primeiro semestre mais lento em três anos, enquanto o mercado de fusões e aquisições caiu 35% na região Ásia-Pacífico.

As enormes negociações de mais de US$ 10 bilhões tiveram uma queda de 53% ano a ano para um total de US$ 259 bilhões, o período mais lento desde 2017. Negociações menores também sofreram uma queda, com as transações de valores inferiores a US$ 500 milhões despencando 36% para um total de US$ 376 bilhões. Enquanto isso, as negociações transfronteiriças tiveram uma queda de 25%, chegando a US$ 494 bilhões.

A maré negativa no mercado de fusões e aquisições inevitavelmente atingiu o mercado de empréstimos sindicalizados, em que as finanças relacionadas à aquisição caíram 56%, a maior queda dos últimos 13 anos.

Qual é o prognóstico para o mercado de fusões e aquisições no segundo semestre?

Para aqueles que apostam em uma recuperação nas negociações no segundo semestre do ano, os sinais são conflitantes. Por um lado, embora os dados do primeiro semestre sejam ruins, uma análise mais detalhada dos dados trimestrais mostra uma recuperação global de mais de um terço das atividades desse mercado entre o primeiro e o segundo semestre.

Por outro lado, as negociações baseadas em títulos privados sofreram uma baixa de quase 50% no ano a ano, marcando o período mais lento para a participação privada desde o primeiro semestre de 2020. Não só isso, mas o recuo no mercado de buy-side ainda não atingiu o nível mais baixo, com uma queda de 19% nas negociações de capital privado em relação aos três meses anteriores. Quando os investidores com capital comprometido a longo prazo não tomam nenhuma ação, isso pode significar que as avaliações cairão ainda mais.

Em meio a opções limitadas, o Goldman Sachs permanece no topo das classificações globais de fusões e aquisições, enquanto o JP Morgan toma o segundo lugar do Morgan Stanley.

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