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Volatilidade afeta negociações nos mercados globais no primeiro trimestre

Lucille Jones
Lucille Jones
Analyst, Deals Intelligence

Com o aumento da volatilidade em 2022, a esperança de uma recuperação dos mercados neste início de ano caiu por terra para a maioria dos ativos de risco. E, enquanto os CEOs deixam de lado as aquisições corporativas e os investidores em ações focam no que já é conhecido, os mercados de dívida vão na contramão e mostram otimismo.


  1. Na Europa, as perdas geradas por operações de M&A foram significativas, remetendo a níveis vistos pela última vez em 1995.
  2. Enquanto isso, os mercados dos EUA viram os IPOs despencar. Já na região EMEA, houve uma recuperação na atividade de ofertas subsequentes de ações.
  3. E a retomada vista recentemente nos mercados de dívida foi impulsionada sobretudo pelo alto rendimento norte-americano.

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Em tempos de incerteza generalizada, o mercado que está mais fortemente associado a reputações pessoais e riscos na carreira dos CEOs–ou seja, o de M&A– acaba sendo o mais revelador. E, no primeiro trimestre de 2023, o medo definitivamente superou a esperança no setor global de aquisições corporativas.

No final de 2021, acreditou-se que o mercado mundial de M&A já tinha atingido o menor patamar possível, de um trilhão de dólares por trimestre. Mas não. Os primeiros três meses de 2023 registraram apenas US$ 580 bilhões, uma queda de 44% em relação ao mesmo período do ano passado, tornando-se o trimestre de abertura mais lento desde 2013 e o que apresentou o maior declínio na comparação ano a ano desde 2001.

As operações acima de US$ 10 bilhões foram as que tiveram o declínio mais acentuado, de 50%, já que até mesmo compradores oportunistas evitam a volatilidade do mercado.

Nos Estados Unidos, as fusões e aquisições caíram de forma constante nos últimos doze meses: despencaram 47% em relação ao ano anterior e 13% se comparadas apenas ao quarto trimestre, movimentando US$ 273 bilhões.

Ainda mais preocupante foi a queda de 60% nas M&A da Europa, que somaram apenas US$ 90 bilhões –nível inédito desde 1995, antes da implementação do euro.

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Poucos pontos de luz no setor de M&A

Quase nenhum país ou região conseguiu fugir das linhas vermelhas nos gráficos referentes ao desempenho do setor de M&A no primeiro trimestre, exceto Japão e a Austrália (e este último graças à aquisição da mineradora de ouro Newcrest pela Newmont Corp, em fevereiro.

Outro destaque positivo foi o setor de saúde, com alta de 60% nos negócios neste ano. Esse índice foi impulsionado principalmente pela Pfizer, que se valeu dos lucros obtidos com sua vacina para a Covid-19 e adquiriu, por US$ 42 bilhões, a empresa de biotecnologia oncológica Seagen.

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Por outro lado, a tão comentada crise do setor de tecnologia começou a ficar evidente nos números de fusões e aquisições, com o valor global agregado do negócio caindo 64% até o final de março (para US$ 92 bilhões).

E as taxas globais de bancos de investimento referentes a transações de M&A caíram 37% no ano, para US$ 6,9 bilhões, marcando o quinto declínio trimestral consecutivo na receita.

Nas tabelas de classificação dos bancos, o Goldman Sachs mantém seu primeiro lugar mundial em fusões e aquisições, com o JP Morgan liderando na Europa e na Ásia-Pacífico. Enquanto isso, a Centerview se juntou aos dez principais consultores globais pela primeira vez, liderando oito outras empresas de consultoria independentes entre as 25 principais do mundo.

Mercados de ações polarizados

O mercado de captação de ações se polarizou no primeiro trimestre, com nomes mais estabelecidos levantando capital à medida que o mercado se afastava de novos participantes do ECM.

O valor captado globalmente nas bolsas de valores caiu 41% em relação ao mesmo período de 2022, ficando em US$ 24 bilhões –o que caracterizou o começo de ano mais lento desde 2019. Nos EUA, apenas US$ 2 bilhões foram levantados em IPOs nas bolsas no primeiro trimestre.

 

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Em compensação, a atividade geral do mercado de ações avançou 8% globalmente, atingindo US$ 132 bilhões, movimento impulsionado pelo trimestre de abertura mais forte para ofertas subsequentes desde 2021. As ofertas secundárias levantaram US$ 85,5 bilhões em todo o mundo, 37% a mais que no mesmo período do ano passado.

Notamos também uma disparidade regional no apetite do mercado de ações. As emissões de companhias na Europa subiram 55% em relação ao primeiro trimestre de 2022, enquanto as da Ásia-Pacífico caíram cerca de 15%.

Entre os países europeus, a Alemanha esteve na liderança do mercado, com um valor agregado de US$ 6 bilhões. Já o Reino Unido foi um caso atípico em termos de números, registrando mais de 40 transações de ações nos primeiros três meses deste ano.

Na classificação global de negociadores de ações, o Goldman Sachs recuperou o primeiro lugar pela primeira vez desde 2019, seguido pelo Morgan Stanley e CITIC.

 

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Mercados de dívida

Em relação a trimestres de abertura, este primeiro trimestre de 2023 apresentou o menor nível em quatro anos de emissões de capital de dívida global. Mas no contexto de deterioração do mercado que vimos em 2022, as notícias foram bem mais felizes. As emissões de dívida saltaram 48% em relação aos últimos meses de 2022; e as emissões de dívida com grau de investimento subiram 39% no primeiro trimestre do ano.

No entanto, o grande vencedor foi o alto rendimento global, que arrecadou US$ 51,2 bilhões, quase triplicando os índices do sombrio quarto trimestre de 2022. Já as ofertas de alto rendimento dos EUA, Canadá e França representaram 76% do mercado, acima dos 66% do ano anterior.

Graças ao mercado financeiro sustentável, o primeiro trimestre registrou uma atividade recorde, com a emissão de títulos verdes saltando em 25% em comparação ao mesmo período do ano passado, para arrecadar US$ 134 bilhões –a maior soma desde o início dos registros, em 2015.

Os Debt Capital Markets (DCM) giraram em direção a setores mais defensivos, com emissores de produtos básicos de consumo, tecnologia e energia desfrutando de aumentos percentuais de dois dígitos em relação ao mesmo período do ano passado. Enquanto isso, os emissores dos setores de telecomunicações e varejo apresentaram os maiores declínios.

Além disso, em linha com o menor apetite por risco detectado no mercado, as ofertas internacionais de títulos caíram 10%, e as de mercados emergentes, 20%.

Nas tabelas de classificação, o JP Morgan continuou sua seqüência ininterrupta de cinco anos como líder em receitas, seguido pelo Citi e pela BoA Securities.

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