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Contagem regressiva para extinção da LIBOR

David Bull
David Bull
Director, Data Management e Strategy

David Bull, diretor de Data Management and Strategy na Refinitiv, analisa os pontos que merecem atenção durante a tão esperada transição da LIBOR e por que o setor financeiro precisa tomar providências nesse sentido o mais rápido possível.


  1. O fim da aplicação da LIBOR (London Interbank Offered Rate), taxa financeira de referência diária para cálculo de juros, ocorrerá no final de 2021, e os participantes do mercado precisam se apressar a fim de fazer a transição de suas carteiras para as Taxas Livres de Risco (RFRs, na sigla em inglês).
  2. Uma série de taxas de referência alternativas foram apontadas como potenciais substitutas. No entanto, nenhuma delas foi desenvolvida especificamente para cumprir o papel da LIBOR, exigindo que reguladores, administradores de benchmarks e outros participantes da indústria se adaptem para realizar a transição entre uma e outra.
  3. As organizações devem estar atentas ao prazo e usar os dados e ferramentas corretos para garantir que a transição da LIBOR gere o mínimo possível de disrupção nos mercados.

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A esta altura, nem mesmo uma pandemia conseguirá inviabilizar a tão antecipada aposentadoria da LIBOR (London Interbank Offered Rate), marcada para o final de 2021. Portanto, o tempo está se esgotando para os participantes do mercado que detêm contratos de trilhões de dólares baseados na LIBOR e que devem fazer a transição de suas carteiras para as Taxas Livres de Risco (RFRs, na sigla em inglês).

Para cumprir o prazo, as instituições financeiras precisam dedicar total atenção aos processos envolvidos, empregando dados e ferramentas capazes de guiá-las nessa travessia com o máximo de segurança e tranquilidade.

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Em busca de uma substituta

Embora até agora não tenha sido identificada nenhuma alternativa com o alcance global da LIBOR, grupos de trabalho públicos e privados foram ágeis em criar ou apontar taxas de referência alternativas para as principais moedas.

Entre elas, encontram-se:

  • Secured Overnight Financing Rate (SOFR) nos Estados Unidos.
  • Sterling Overnight Index Average (SONIA) no Reino Unido.
  • Euro Short-Term Rate (€STR) na Zona do Euro.
  • Swiss Average Rate Overnight (SARON) na Suíça.
  • Tokyo Overnight Average Rate (TONAR) no Japão.

O problema é que nenhuma dessas RFRs foi originalmente projetada para ser a equivalente direta da LIBOR, e todas são taxas com base em transações overnight do mercado financeiro. Já a LIBOR é normalmente cotada de forma prospectiva, o que facilita o ajuste às flutuações nas taxas de juros globais.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a SOFR é derivada do grande volume de transações no mercado de overnight repo (repurchase agreement, ou acordo de recompra), o que dá origem a uma taxa retrospectiva. Portanto, para alguns produtos de taxas de juros, uma SOFR de três meses será derivada da composição da taxa overnight em atraso.

Os reguladores e administradores de benchmarks têm procurado resolver esses entraves estruturando curvas para períodos prospectivos, que poderiam ser usados como alternativa em certos fluxos de trabalho. A definição de como as taxas e fluxos de caixa serão calculados, e se incluirão ou não um componente de crédito, permanece em discussão.

A falta de risco de crédito dinâmico na SOFR também levantou algumas preocupações.

Por exemplo, em tempos de estresse nos mercados, vincular as taxas de juros à LIBOR facilitou a administração do risco (de taxa de juros) pelos bancos, pois pagamentos mais altos sobre seus ativos ajudam a compensar a pressão do aumento dos custos de financiamento.

Mas substituir a LIBOR pela SOFR provavelmente apertará margens que já se encontram estreitas. Como resultado, os emissores podem precisar de maior compensação por meio de spreads mais altos, ou seja, uma forma de assumir o risco de os rendimentos dos ativos diminuírem enquanto custos de financiamento aumentam.

Contratos preexistentes

Um sério obstáculo para a transição de uma taxa para outra são os contratos LIBOR a serem herdados e que não possibilitam a revisão da chamada linguagem alternativa (fallback language).

A linguagem alternativa estabelece os termos de como um produto é afetado se a LIBOR não estiver mais disponível. Enquanto alguns ativos, como derivativos, permitem o ajuste dos contratos existentes às taxas de substituição e protocolos introduzidos por órgãos legislativos e grupos de trabalho, outros, como títulos, retornam automaticamente para os termos descritos no prospecto do investimento. O único detalhe é que esse documento foi formulado em um mundo que não contemplava a possibilidade de a LIBOR estar indisponível no longo prazo.

Mesmo com todas essas dificuldades, começamos a vislumbrar algum progresso na área. Em junho deste ano, a Financial Conduct Authority (FCA) do Reino Unido anunciou que já trabalha em uma política capaz de delinear uma mudança na metodologia da LIBOR que dê conta dos contratos herdados.

As alterações propostas permitiriam a publicação contínua de um “número LIBOR” que usasse metodologia e inputs diferentes, além de mais robustos.

Contudo, à medida que trilhões de dólares em investimentos se distanciam da LIBOR, as modificações nos contratos e em acordos de hedge tornam-se caros e extremamente trabalhosos.

Para fins contábeis, as alterações feitas em contratos e outros acordos terão que ser avaliados, determinando se as mudanças requerem a elaboração de novos documentos ou não.

Além disso, substituições de taxas de referência podem restringir certos mecanismos de contabilidade de hedge, fazendo com que algumas relações de hedge não sejam “altamente eficazes” durante o período de transição para uma taxa alternativa.

Transição da LIBOR: por que é preciso agir agora

A capacidade de reavaliar ativos existentes com base em novas RFRs é fundamental.

E, como a LIBOR está profundamente incorporada a uma ampla gama de processos em todo o setor financeiro, as organizações precisarão de inúmeros pontos de dados e ferramentas para apoiar a transição para taxas de referência alternativas.

Com o tempo se esgotando, os participantes do mercado precisam agir agora. Só assim, eles conseguirão colocar os processos apropriados em funcionamento e poderão gerenciar essa transição de forma eficiente e dentro do prazo.

Aconselhamos seguir estas quatro etapas para preparar sua instituição (e seus clientes) para as mudanças.

  1. Compreenda os riscos, identifique as exposições

Um bom ponto de partida: conscientize-se sobre a exposição da sua organização à LIBOR. Onde a LIBOR está sendo usada atualmente, ou quais outras taxas de referência são empregadas no momento? Quais processos e funções estão sendo alimentados com a LIBOR? Quais normas de fallback são aplicáveis?

Assim que essas questões tiverem sido respondidas, benchmarks e taxas de referência alternativas precisam ser avaliadas. As ferramentas de análise de cenário podem ajudar as instituições financeiras a medir, por exemplo, o impacto de swaps de taxas de juros em contratos baseados na LIBOR em seus portfólios.

Uma calculadora para taxas compostas para as principais RFRs também pode ajudar as empresas a se manterem em dia, à medida que metodologias padrão de mercado continuam a ser desenvolvidas.

  1. Comece (agora) a reduzir a sua dependência da LIBOR

Comece a fazer isso diminuindo a sua exposição a contratos antigos sempre que possível. Além disso, converse com seus clientes sobre as mudanças que estão ocorrendo no mercado e quaisquer novos produtos sendo desenvolvidos.

Em seguida, passe a integrar ferramentas baseadas em RFRs em seus modelos de preços e calculadoras. Isso permitirá a sua empresa iniciar a transição das transações que se estendem além de 2021 para estruturas de taxas alternativas.

  1. Envolva-se mais com seus funcionários, consultores e reguladores

Uma transição suave da LIBOR exigirá uma liderança eficaz. Estabeleça programas de migração da LIBOR para o front, middle e back office, e identifique executivos de nível sênior para se responsabilizarem ​​pelo gerenciamento das transições.

Apesar do prazo iminente, muitas questões centrais em torno da extinção global da LIBOR não estão definidas. Por isso, para que as organizações possam tomar decisões bem embasadas sobre seus processos de transição, elas devem se manter a par das notícias e dos comunicados das agências reguladoras e grupos do setor.

  1. Encontre os dados (e os parceiros) certos para ajudá-lo com uma transição suave

Os dados são –e permanecerão— elementos centrais para essas mudanças. Dados disponibilizados recentemente e novas RFRs vão guiar novas curvas, preços e conjuntos de conteúdo. Mas lembre-se: os dados são apenas o começo.

Conforme a LIBOR vai sendo aposentada, ser capaz de acessar dados robustos e confiáveis –juntamente com insights e ferramentas relevantes— de uma única fonte torna-se algo crucial para uma transição suave e eficaz.

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