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Cenário de risco e Covid-19: com a transformação do ambiente corporativo, empresas encontram-se mais vulneráveis a crimes financeiros

Relatório da Refinitiv indica que com menor pressão de reguladores e maior cobrança por resultados na esteira da pandemia, empresas recuam em processos de due diligence e ficam mais expostas a crimes financeiros, como os cibernéticos. 


  • A edição de 2021 do relatório “Relatório Global de Risco e Compliance 2021” da Refinitiv mostra que o estresse nas finanças internacionais obrigou as organizações a desviar o foco para necessidades comerciais mais urgentes. Na América Latina, por exemplo, 80% dos entrevistados relataram cobranças para aumentar a receita de seus departamentos.
  • Em meio a esse cenário, apenas 44% dos relacionamentos das empresas são hoje submetidos a procedimentos de due diligence, índice 5% menor do que o obtido em 2019. Curiosamente, a Europa é a região com a menor taxa (40%), seguida pelas Américas (44%).
  • A dificuldade em obter documentação legal e dados necessários para realizar verificações minuciosas sobre terceiros também parece estar contribuindo para isso: 32% dos entrevistados na região da América Latina e Caribe e 46% nos EUA, por exemplo, citam esse desafio.

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Quem é cliente da Refinitiv já há algum tempo, sabe que divulgamos anualmente abrangentes relatórios sobre o panorama de risco global. Deixamos de fazê-lo apenas em 2020, quando a pandemia, recém-instalada, pegou todos de surpresa e causou transtornos sem precedentes (também) para o ambiente corporativo. No primeiro semestre deste ano, no entanto, conforme começávamos a emergir da maior crise sanitária de que se tem notícia em mais de um século, pudemos retomar esse trabalho.

Baseado em enquetes conduzidas ao longo de trinta países com quase 3.000 profissionais do setor de risco e compliance durante o primeiro trimestre de 2021, esta nova edição do nosso já tradicional relatório deixa claro que, assim como o mundo se transformou drasticamente nos últimos dezoito meses, o mesmo ocorreu com a forma como as organizações lidam com o risco.

Leia o relatório da Refinitiv: Relatório Global de Risco e Compliance 2021

Pandemia escancara as portas para o crime financeiro

Como foi realizada em meio à crise gerada pela Covid-19, esta pesquisa funciona como uma espécie de termômetro das recentes transformações no cenário de risco desde que nos deparamos coma a pandemia. E talvez a mais óbvia delas seja que, conforme a disseminação do vírus fez com que bancos centrais, corporações e consumidores reconsiderassem suas prioridades e realocassem recursos em prol da sobrevivência, o crime financeiro também se reinventou, adquirindo novas formas.

Não é segredo que o estresse nas finanças internacionais obrigou as empresas a desviar o foco para necessidades comerciais mais prementes; para se ter uma ideia, 65% dos profissionais consultados admitiram estar sob pressão (extrema ou significativa) para melhorar lucros e participação de mercado. E algumas regiões foram ainda mais atingidas por esse movimento: 80% dos entrevistados na América Latina, por exemplo, relataram cobranças para aumentar a receita de seus departamentos.

Se por um lado houve necessidade de se mudar a abordagem comercial, por outro, governos, reguladores e até conselhos corporativos passaram a exercer menor pressão para que fossem adotadas medidas contra o crime financeiro, já que o foco estava muito mais em apoiar as empresas, ajudando-as a pagar contas e reter seus funcionários, do que em gerar ainda mais obrigações.

Tempestade perfeita

Em meio a esse cenário, não é de espantar que atualmente apenas 44% dos relacionamentos das empresas sejam submetidos a procedimentos de due diligence, índice 5% menor do que o levantado na pesquisa anterior, de 2019. Curiosamente, a Europa é a região com a menor taxa (40%), seguida pelas Américas (44%). Já Oriente Médio e África Subsaariana surgem com as maiores marcas (48% e 56%, respectivamente).

Embora esses índices possam parecer contra-intuitivos, pode-se supor que as organizações que operam em ambientes de negócios mais voláteis e instáveis, como na África e no Oriente Médio, ​​tiveram que se tornar resilientes e ágeis a fim de crescer –e a condução de processos frequentes e rigorosos de due diligence é fundamental para garantir o sucesso em tais mercados.

Além do que já foi citado anteriormente, a dificuldade em obter documentação legal e dados necessários para realizar verificações minuciosas sobre terceiros também parece estar contribuindo para a queda nos índices de due diligence, já que 32% dos entrevistados na região da América Latina e Caribe e 46% nos EUA, por exemplo, citam esse desafio.

Trabalho remoto e crime cibernético

Nossa pesquisa também ajudou a confirmar algo que muitos já intuíam: devido à adoção das práticas de trabalho remoto, o combate aos crimes cibernéticos contra as organizações empresariais se tornou mais complicado. Enquanto metade (51%) dos respondentes afirma que a pandemia aumentou a preocupação das companhias com esse tipo de crime, 71% dizem que ficou mais difícil de contê-lo.

Outro ponto que merece destaque é o fato de que hoje quase todos (98%) os profissionais consultados acreditam que o crime financeiro traz sérios prejuízos para a sociedade, como:

  • Corromper o ambiente de negócios (33% dos entrevistados e 39% dos respondentes da AL)
  • Incentivar outras atividades ilegais (31% dos entrevistados e 34% dos respondentes da AL)
  • Usar recursos de forma ineficiente (30% dos entrevistados e 32% dos respondentes da AL)
  • Fazer com que os preços cheguem mais altos aos usuários finais (29% dos entrevistados e 39% dos respondentes da AL)

O estudo ainda deixa claro que a principal preocupação de uma firma ao ser associada a crimes financeiros é com sua reputação, sobretudo na América Latina e na África Subsaariana, onde 40% e 45% dos entrevistados, respectivamente, citaram essa questão—globalmente, esse índice cai para 33%.

Proatividade cresce, mas atalhos atrapalham

Embora tenhamos constatado menor “incentivo” por parte dos governos, agências reguladoras e conselhos corporativos à prevenção de crimes financeiros, os dados sugerem que as empresas estão mais automotivadas e proativas na detecção desse mal. Ou seja, menos profissionais (64% em 2021 contra 73% em 2019) concordaram com a afirmação de que se concentram apenas em estar em conformidade com as regulamentações em vez de tentar realmente prevenir problemas. E mais: 57% das grandes organizações descrevem sua motivação para detectar crimes financeiros como “boa”, em comparação aos 52% de 2019.

Mas, mesmo com uma maior disposição para detectar e prevenir riscos de terceiros, vemos que as dificuldades impostas pela pandemia têm forçado os times de compliance a tomar atalhos em seus processos de due diligence e de KYC; 65% dos entrevistados admitem tal prática.

Tecnologia impulsiona a detecção de crimes financeiros

O que nos surpreendeu foi a correlação entre conscientização sobre o crime financeiro e a utilização de tecnologia em departamentos de risco e compliance.

Vimos que entre os usuários de ferramentas tecnológicas, 66% sabiam da ocorrência desse tipo de delito em suas organizações. Já entre os que não recorrem a esse recurso, esse índice despenca para 40%. E, como é bastante improvável que essa diferença estatística esteja ligada a uma menor incidência de crime financeiro em empresas que não usam nenhuma tecnologia para prevení-lo, acreditamos que o problema ocorre, mas simplesmente não é detectado.

Esta nova edição da pesquisa ainda demonstra outras vantagens do emprego de soluções tecnológicas para a prevenção desse mal. Um exemplo concreto disso é que aqueles que adotam regularmente essa abordagem têm quase duas vezes mais chances de ter uma melhor colaboração com as autoridades policiais do que o outro grupo (58% contra 36%). Outros benefícios citados são maior eficiência nos processos (41%) e redução de custos (43%).

Tecnologia, dados e colaboração

A Refinitiv está comprometida em fornecer tecnologia de ponta e dados confiáveis, e em promover uma maior colaboração entre o setor público e o privado, pois sabe que essas são ferramentas essenciais na luta global contra o crime financeiro. Portanto, é bastante encorajador que os resultados de nossas pesquisas apoiem plenamente essa visão.

E, à medida que a pandemia segue transformando o cenário de risco global, acreditamos que a combinação única entre tecnologia, dados e colaboração pode ser a fórmula perfeita para combater a atual onda de crimes financeiros.

Clique aqui para acessar o relatório completo