Em meio a um ambiente corporativo com rígida regulamentação e pressão social cada vez maior, fizemos um apanhado de estudos da Refinitiv que se debruçam sobre o passado, o presente e o futuro das empresas que implementam programas de compliace ESG.
- A agenda ESG tornou-se uma prioridade para as empresas globais, que vêm tentando, cada vez mais, montar suas cadeias de suprimentos de maneira sustentável.
- Com a intensa onda regulatória e a maior pressão pública, cresce a demanda por dados e iniciativas de investimento ESG que sejam aplicáveis a vários departamentos das empresas, incluindo os de logística e de controle de cadeia de suprimentos.
- Outras tendências relacionadas às questões ESG que devem surgir nos próximos cinco anos incluem requisitos mais rigorosos para relatórios de divulgação e maior investimento por parte dos conselhos corporativos nos departamentos de compliance.
Na esteira da pandemia, as empresas globais passaram a dar maior atenção às questões ambientais, sociais e de governança (ESG), buscando, inclusive, organizar suas cadeias de suprimentos de forma cada vez mais sustentável.
Com o impacto econômico da Covid-19 ainda sendo sentido por inúmeras organizações, a noção de que a cadeia de abastecimento deve funcionar nos mesmos moldes do negócio a que se destina deixou de ser um diferencial para se transformar em necessidade. Isso porque, para manter as operações funcionando, muitos fornecedores fizeram esforços de curto prazo que acabaram se mostrando insustentáveis.
Como foi demonstrado por crises econômicas anteriores (como a crise imobiliária do início dos anos 2000), em momentos críticos aumenta a tentação de se cortar custos ou até de se envolver em condutas ilícitas simplesmente para viabilizar os negócios. Entre essas práticas duvidosas podemos citar, além de certos crimes financeiros, abordagens que vão contra a agenda ESG –e, para se ter uma ideia, no que diz respeito somente às cadeias de suprimentos de grandes empresas dos setores de logística, petróleo, energia e commodities, são inúmeras as questões ESG envolvidas.
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Da COP21 à COP26
Ao final da COP26, em Glasgow, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que “devemos acelerar a ação climática para manter vivo o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus”.
Nos últimos cinco anos –após a COP21 de 2016, quando os líderes mundiais concordaram em conter o aquecimento global em 2°C –, os investidores se comprometeram com o Acordo de Paris e um crescente número de organizações compreendeu que é preciso se adaptar aos novos mercados, nos quais os investimentos são avaliados de acordo com a capacidade da empresa de ajudar a reduzir as emissões globais em 50% até 2030.
E são as empresas públicas, com ações em bolsa, que vêm estabelecendo as metas mais ambiciosas. A Shell, por exemplo, concordou, em outubro de 2021, em reduzir suas emissões absolutas em 50% até o final da década. Outras corporações, como Walmart, BASF e Repsol, assumiram o compromisso de se tornar neutras em carbono, carbono-negativas ou net zero. Já a Amazon fez um progresso significativo em seu plano de atingir o net zero até 2040, tendo chegado a 65% de energia renovável em suas operações, um avanço de 42% em relação a 2019.
Por fim, investidores institucionais, como fundos de pensão no Reino Unido, Dinamarca e Alemanha, têm adotado a chamada abordagem de “desinvestimento/investimento”, realocando capital em iniciativas de mitigação das mudanças climáticas, já que cada vez mais investidores buscam títulos verdes.
Melhor compreensão sobre o compliance com questões ESG
Podemos dizer tranquilamente que subiu o número de empresas que compreendem os benefícios e os resultados financeiros de se investir em programas e padrões de conformidade ESG. Essas organizações passaram a admitir que as ferramentas analíticas são úteis para filtrar critérios, medir e avaliar o desempenho por setor, país, moeda e outros fatores.
Essa maior compreensão por parte das corporações também as ajuda distinguir entre as abordagens ESG financeiramente relevantes e outras mais focadas em objetivos sociais, permitindo a formulação e implementação de estratégias baseadas em fatos concretos.
Os formuladores de políticas empresariais e os investidores também adquiriram uma maior conscientização sobre a perda de biodiversidade, e as firmas que comercializam ou fornecem alimentos e commodities agrícolas (como gado, soja, óleo de palma e madeira) ficaram mais atentas ao impacto de suas operações, já que a agricultura é responsável por cerca de 80% do desmatamento global.
Na América Latina, as empresas que processam soja, uma commodity sempre em alta demanda, têm estado cada vez mais vulneráveis à pressão do consumidor e aos altos riscos de desmatamento em países como o Brasil. Embora os maiores processadores e traders de soja tenham adotado metas de desmatamento zero, entre o último trimestre de 2020 e o primeiro de 2021, uma parte substancial de suas exportações não obteve certificação para padrões de sustentabilidade de terceiros,
Relatórios de sustentabilidade
Desde 2020, o relatório da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD) se tornou obrigatório para os signatários dos Princípios de Investimento Responsável da ONU (UN-PRI). E o Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis (SFDR) da UE, que entrou em vigor em março de 2021, passou a exigir que os acionistas institucionais relatassem questões sociais e de governança corporativa (como diferenças salariais por gênero), bem como outros itens relacionados à sustentabilidade ambiental. Além disso, banqueiros e consultores financeiros e corporativos começaram a oferecer serviços para a formulação e/ou implementação de relatórios ESG e estratégias de sustentabilidade.
Investimento em diversidade
Em 2021, uma boa parcela de investidores apostou em instrumentos, como títulos sociais, para abordar questões que podem afetar tanto a reputação quanto o desempenho das empresas. Escândalos, renúncias e retiradas de investimento não apenas resultam em mídia adversa, mas também podem desencadear ações judiciais e greves, impactando diretamente na continuidade dos negócios e no desempenho financeiro.
Corporações como Adidas e PepsiCo, por exemplo, se comprometeram em preencher mais cargos com candidatos racialmente diversos. E outras companhias, como a Twill (empresa que pertence a Maersk) incluíram idade, cultura e deficiência em seus critérios de diversidade.
Os investidores também pediram às organizações que melhorem as divulgações sobre força de trabalho e continuem diversificando suas posições de liderança, pois continuarão olhando para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU como uma estrutura para lidar com as desigualdades e darão mais atenção a questões como pobreza, fome, saúde, educação, igualdade de gênero e dignidade das condições de trabalho.
Entre as empresas que se tornaram líderes na dimensão social do ESG, vimos corporações bancárias, como Bank of America e BBVA, que emitiram seus primeiros títulos sociais corporativos entre o segundo e o terceiro trimestres de 2020.
O papel da administração Biden na agenda ESG
Assim que tomou posse, o presidente Joe Biden prometeu retomar as políticas ESG e dar atenção às medidas para contornar a crise climática nos EUA.
De acordo com a S&P Global Trucost, cerca de 60% das empresas do S&P 500 têm pelo menos um ativo com alto risco de impacto físico nas mudanças climáticas; e de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), em 2020, os EUA sofreram 22 desastres relacionados às mudanças climáticas. Esses eventos causaram pelo menos US$ 100 bilhões em prejuízos.
Tendências ESG para o futuro
Depois desse resumo dos principais desdobramentos na área ESG nos últimos anos, podemos, finalmente, listar quatro grandes tendências previstas para os próximos cinco anos (2022-2026):
- As regulamentações e a pressão pública continuarão gerando mais demanda por dados e iniciativas de investimento ESG aplicáveis a empresas de vários setores, incluindo as que lidam com cadeia de suprimentos e logística.
- Espera-se que os requisitos de informações e relatórios se tornem mais rigorosos, pois as ações de fiscalização relacionadas a questões ESG se tornarão mais eficazes e especializadas do que nos três anos anteriores (2019-2021). Nesse período, estarão em vigor regulamentos como a Diretiva da UE sobre Due Diligence Obrigatória de Direitos Humanos e Ambientais e a Lei de Due Diligence Corporativa da Alemanha.
- Os conselhos continuarão capacitando cada vez mais os profissionais de compliance e investindo mais em seus departamentos, delegando tarefas relacionadas à formulação e implementação de políticas e processos ESG eficazes. Caso contrário, eles poderão nomear oficiais ESG especializados que se reportarão ao CCO e aos conselhos.
Assista: “Creating a 360-degree view of third-party risk”
- As empresas vão controlar mais de perto os padrões ESG de suas cadeias de suprimentos. À medida que visam melhorar seus próprios esforços nas áreas ESG, haverá um foco maior em parcerias com terceiros em todo o mundo –e especialmente onde as prioridades ESG ainda não são tão altas. Para incentivar esses terceiros a adotar padrões ESG aceitáveis, as empresas irão impulsionar mudanças e demonstrar seu compromisso com a agenda ambiental, social e de governança.
A Refinitiv segue comprometida em ajudar as organizações a identificar e erradicar riscos até mesmo nas mais complexas redes globais de fornecimento. Também estamos empenhados em garantir que dados ESG confiáveis e completos estejam acessíveis e em promover o uso generalizado de critérios ESG como parte de estratégias mais amplas de gestão de risco.