Os operadores dos mercados agrícolas podem acabar entrando em alerta mais cedo do que o normal com as previsões de um possível La Niña para o final deste ano, pois embora nem todos os episódios do fenômeno sejam acompanhados pela seca, algumas regiões de cultivo com maior propensão a receber efeitos negativos da anomalia climática já passam por um período de escassez hídrica.
O Centro de Previsões Climáticas dos Estados Unidos disse na quinta-feira que há chances de 50% a 55% de que o La Niña se desenvolva durante o outono do Hemisfério Norte, com uma chance de 50% de que o fenômeno persista no início de 2021.
O La Niña, caracterizado por tornar a superfície das águas do Oceano Pacífico equatorial mais fria que o normal, foi observado pela última vez em 2017/18 –um evento que alguns produtores nas Américas tanto do Norte quanto do Sul infelizmente não conseguem esquecer.
As condições persistentes de seca associadas ao La Niña têm maior probabilidade de ocorrer na Argentina e no sul do Brasil, além das Planícies do sul dos EUA, onde é cultivada a variedade de trigo duro vermelho de inverno (HRW, na sigla em inglês) do país.
Descubra novas oportunidades com dados e conteúdo exclusivos oferecidos pelo Eikon.
No início de 2018, a Argentina colheu sua menor safra de soja em nove anos, enquanto a produção de milho do Brasil também ficou muito abaixo das expectativas iniciais. Nos EUA, os rendimentos do trigo HRW foram fracos naquele ano, e a seca na área permaneceu para a temporada de cultivo de milho e soja.
Mas também houve La Niña em 2016/17, e as safras nessas regiões praticamente não foram afetadas na ocasião, tanto que a maioria das pessoas sequer recorda desse evento, uma vez que ele não teve comportamento muito semelhante ao de um La Niña e os impactos típicos não foram observados.
Ainda é muito cedo para saber exatamente como o possível La Niña à vista vai se desenvolver –e isso será muito importante nas avaliações da possibilidade de impactos negativos às culturas.
A força será o fundamento-chave. Houve mais anomalias registradas nas temperaturas da superfície oceânica em 2017/18 do que no ano anterior, mantendo aquela região do oceano bastante fria durante o episódio. Em 2016/17, essa temperatura fria foi mais fraca e menos consistente, e por isso parte do clima observado remeteu às fases quentes de El Niño.
O “timing” também é importante. Em 2016/17, o La Niña ocorreu quase que completamente em 2016 –em janeiro, as anomalias se dissipavam, dando lugar a temperaturas mais quentes em fevereiro.
Mas em 2017/18, uma anomalia muito mais forte perdurou de novembro a março. Se tivesse ocorrido mais cedo, o alívio poderia ser possível para os plantios nas Américas, que depois acabaram sofrendo com a situação.
O sinal de alerta acende para partes da Argentina, que enfrentam uma seca desde o início do ano, com a umidade do solo atingindo os menores níveis para junho em pelo menos cinco anos nas províncias de Córdoba e Santa Fe. As tendências climáticas já colocam a nova safra de trigo em risco, com a Bolsa de Rosario reduzindo sua estimativa para a colheita.
No Brasil, o Rio Grande do Sul enfrentou grandes problemas com a seca em meio às safras de verão de milho e soja neste ano, embora as chuvas tenham aparecido em melhor nível nas últimas semanas.
E nos EUA, as condições de seca aumentaram nos últimos meses. Em março, apenas 14% do Kansas –principal Estado produtor de trigo HRW– enfrentava escassez hídrica; na terça-feira, a seca já cobria 68% do Estado.
Esteja sempre informado através do conteúdo do serviço brasileiro de notícias da Reuters