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Prognóstico sombrio para a indústria siderúrgica

Tamara Thorne
Tamara Thorne
Senior Metals Analyst, Refinitiv

Conforme a pandemia de Covid-19 se propaga, o foco dos mercados segue alternando entre estímulos financeiros, número de casos, notícias sobre possíveis medicamentos e vacinas e, claro, perspectivas para as demandas globais de mercadorias, na tentativa de quantificar os danos aos diferentes setores industriais. Nas últimas semanas, no entanto, desde que começaram a anunciar uma enxurrada de cortes na produção, as companhias siderúrgicas têm se mantido no centro das atenções. Neste post, analisamos dados do setor para apresentar as perspectivas de oferta e demanda, e como os preços refletirão esse movimento.


 Vamos lá, podemos iniciar essa análise pelas atuais importações de minério de ferro. De acordo com os fluxos comerciais da Refinitiv, o comércio marítimo global em março deverá permanecer estável. As estimativas também sugerem que o volume recebido no mês passado nos portos chineses totalizou 88,8 milhões de toneladas (mas um intervalo de tempo entre os relatórios indica que até agora apenas 90% foi descarregado). Isso aponta que análises posteriores podem ainda mostrar uma leve diminuição no total de volumes importados pela China em março.

Em relação a cada país exportador, as vendas do Brasil caíram 26%, enquanto a Austrália e a África do Sul subiram, respectivamente, 4% e 30%. Mesmo com esse aumento nas exportações, os dois países ainda não estão compensando a queda acentuada das remessas brasileiras em termos de volume.

Como destacamos anteriormente, a análise dos fluxos comerciais fornece uma visão antecipada das estatísticas sobre oferta e demanda e, embora possa estar sujeita a alterações ao longo dos meses, é útil para a compreensão das tendências futuras.

Gráfico 1: Importação mensal de minério de ferro pela China

Fonte: Refinitv Trade Flows

Produção de Minério de Ferro e Aço

Em 31 de março, a mineradora Vale estimava que aproximadamente 18 milhões de toneladas do transporte marítimo de minério de ferro (1% do comércio marítimo global em 2019) seriam cortados neste ano como resultado de paralisações relacionadas ao COVID-19 em todo o mundo.

Entretanto, como mostram os dados do Iron Ore Trade Flows (Fluxos Comerciais de Minério de Ferro) da Refinitiv, a partir dessa mesma semana não foram constatadas grandes interrupções no fornecimento da commodity, seja pelo fato de algumas embarcações já estarem a caminho de seus destinos ou pelo baixo impacto dos lockdowns na atividade de mineração até o momento.

Por outro lado, a produção de aço foi duramente atingida na Europa, onde sofreu uma grande desaceleração em 2017 e vem diminuindo desde então.

Em meio à pandemia de coronavírus, siderúrgicas como ArcelorMittal (a maior produtora de aço do mundo), Thyssenkrupp e Salzgitter anunciaram reduções na capacidade produtiva em resposta à menor demanda dos setores consumidores de aço, provocando uma queda livre nos preços de suas ações nas bolsas de valores.

 De fato, alguns dos principais mercados para a matéria prima registraram quedas substanciais. O indicador de confiança da construção DG ECFIN desceu 84% em relação ao ano anterior no mês março. Os dados de registro de carros novos na Europa atualizados pelo BCE em fevereiro mostraram uma diminuição de 14% no comparativo anual. E, o mais significativo: o IHS Markit Eurozone Manufacturing PMI, um barômetro da saúde da economia industrial europeia, caiu para 44,8 em março, o nível mais baixo desde 2009, com Itália, França e Espanha como os países mais afetados.

Gráfico 2: Produção Mundial de aço versus produção da União Europeia

Fonte: World Steel Association, Refinitv, Datastream

Para colocar tudo isso em contexto, de acordo com dados da World Steel Association, a União Europeia foi responsável por 9% da produção total de aço no ano passado, enquanto a China e os EUA representaram 51% e 5%, respectivamente. Mesmo antes de saírem os números de março para a produção europeia e, embora a maioria das siderúrgicas ainda não tenha especificado números exatos para os cortes de produção, ainda é fácil concluir que a demanda por aço apresentará uma contração significativa no primeiro semestre de 2020.

Também é provável que, como as importações mundiais e chinesas de minério de ferro vinham ocorrendo até agora de forma abundante, haverá excesso de oferta de aço por um tempo, achatando ainda mais os preços no curto prazo.

Gráfico 3: Cotação de ações de empresas siderúrgicas europeias

Fonte: Refinitv, Datastream

Em meio a toda essa crise, vimos apenas uma boa notícia sobre a retomada das atividades econômicas na China: o índice Caixin Manufacturing Purchasing Managers do mês de março voltou a 50,1 –um salto de 24% em relação à baixa histórica de fevereiro.

Esse, no entanto, não é o único fator a ser levado em consideração. Outro importante termômetro é o contínuo declínio no estoque de minério de ferro, registrado pela SteelHome em 121,2 milhões de toneladas em 27 de março –o nível mais baixo desde agosto de 2019. Isso, porém, é atribuído às usinas que não desejam estocar matéria-prima, já que a demanda segue fraca.

E, embora os estoques de aço também tenham diminuído, afetando a manufatura de uma infinidade de produtos, de acordo com dados da SteelHome publicados em 19 de março, a sua produção também foi reduzida em 8% em fevereiro (na comparação anual). Espera-se uma melhora para esse índice em março, mas é bem provável que, devido à desaceleração econômica em todo o mundo, o crescimento seja quase insignificante.

Gráfico 4: Cotação de ações de empresas siderúrgicas chinesas

Fonte: Refinitiv, Datastream

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